São Paulo, sábado, 5 de abril de 1997
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GUIDO MANTEGA

Terminada a operação de salvamento do Bamerindus, não há mais nenhuma desculpa para manter o Proer fazendo mau uso do dinheiro público. Está na hora de encerrar suas atividades, uma vez que já existe o Fundo Garantidor de Depósitos (FGD), que foi criado justamente para garantir os depósitos até R$ 20 mil e proteger pequenos e médios correntistas.
Se os recursos do FGD são ainda incipientes, é preciso aumentar as contribuições dos bancos e parar de usar recursos do Banco Central para acobertar maus administradores e para cobrir a imprevidência de grandes aplicadores, que se aventuraram a ganhar taxas especulativas.
O Proer é uma aberração criada por um grave descuido das autoridades monetárias, que demoraram para intervir num mercado financeiro que já vinha acumulando problemas. Curiosamente, todo mundo sabia, menos os diretores do Banco Central, que os bancos Econômico, Nacional e Bamerindus estavam fazendo água.
Por que, então, o Banco Central fez vista grossa, deixando o buraco alastrar-se a ponto de engolir R$ 20 bilhões do Proer? Se não foi por negligência, deve ter sido por problemas de ordem política. Afinal, esses três bancos deram generosas contribuições para o candidato à Presidência da República em 1994, da coligação PFL-PTB-PSDB.
São públicos e notórios os laços que unem o Econômico ao PFL do senador Antonio Carlos Magalhães e o Bamerindus do senador Andrade Vieira ao PTB, sem falar do parentesco do presidente com os donos do Nacional. Quando Persio Arida era presidente do BC, quis decretar a liquidação do Econômico. Mas deu uma trombada com ACM e não teve outra saída senão pegar o chapéu e ir para casa.
Com toda essa promiscuidade entre setor público e privado, não dá para esconder que o Proer foi uma solução sob medida para resolver os problemas dos grandes bancos. Nunca se viu tamanho volume de recursos a juros tão baixos, nem mesmo na crise financeira dos anos 70 do Banco Halles e do BUC.
Entre mortos e feridos, todos se salvaram. Foram-se alguns jatinhos, mas restaram ainda muitos bens. Ficou uma conta de R$ 20 bilhões, que é maior que todo o orçamento da saúde para 1997.
Ninguém acredita na balela de que o Proer saiu de graça para os cofres públicos. O Proer está entupido de moedas podres, que foram compradas pelos banqueiros com grandes deságios, ainda maiores que aqueles concedidos nos títulos das precatórias. Coube ao BC absorver os créditos ruins, que, somente no Bamerindus, foram estimados em R$ 4,3 bilhões.
O "mico", certamente, vai engrossar a dívida pública, que ficará pendurada nas amplas costas dos contribuintes brasileiros. É por isso que o tempo passa, o tempo voa, e o sistema financeiro continua numa boa.

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