São Paulo, domingo, 6 de abril de 1997
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Irmão de Pissardo quer novo julgamento

SHEILA FARIA

SHEILA FARIA; MARIA REGINA ALMEIDA
EDITORA-ASSISTENTE DA FOLHA VALE

Para Adriano Pissardo, Gustavo tem problema mentais e precisa de tratamento; advogado vai entrar com recurso

MARIA REGINA ALMEIDA
O irmão de Gustavo Pissardo, Adriano, 22, acredita que a possibilidade de um novo julgamento possa salvar a vida de seu irmão.
Segundo Adriano, Gustavo pode ser morto se for transferido para um presídio comum. Ele foi condenado a 63 anos e quatro meses de reclusão em regime fechado, considerado culpado pelas mortes de cinco pessoas de sua família, na última quinta-feira, em São José dos Campos (97 km de SP).
Adriano espera que o irmão receba tratamento médico para que possa recuperar a lucidez e descobrir o motivo que o levou a matar os pais, irmã e avós, em 1994.
Adriano falou com exclusividade à Folha.
*
Folha - O que o sr. achou do resultado do julgamento?
Adriano Pissardo - Foi uma vitória em cima do promotor, que queria 150 anos. Ele vai entrar com recurso, não sei se por vaidade, egoísmo ou para que a imprensa fique mais em cima dele. O nosso advogado (José Carlos de Oliveira) também vai entrar com recurso porque eles, o promotor e o júri, não deram bola para o laudo médico da Casa de Custódia. O que eles fizeram foi dizer que o laudo médico não valeu para nada.
A gente não quer que o Gustavo saia, ele precisa de tratamento. A vida acabou para ele. Ele é a sexta vítima e eu sou a sétima.
Folha - Gustavo tem consciência de que precisa de tratamento?
Pissardo - Tem.
Folha - Ele já falou no motivo?
Pissardo - Ele descreveu tudo o que aconteceu com detalhes. Mas a causa, ele nunca conseguiu falar. Eu sempre comento com as pessoas que me questionam sobre isso e sobre o fato de ele ter o meu apoio. As pessoas perguntam: "Você dá assistência ao seu irmão que acabou com a sua família?" Eu estou com ele porque eu o conheço. Nós somos irmãos. Eu sempre estive com ele. Sei quem ele é. Não é marginal, bandido ou safado.
Folha - O sr. acredita que ele tem algum distúrbio mental?
Pissardo - Claro. Ele tem problemas. Por essa razão eu não quero que ele caia em um presídio comum. Aí sim, será um problema muito sério. Talvez eu perca o meu irmão. Talvez ele vire um marginal, tendo que matar para sobreviver. Ou talvez o matem.
Folha - O sr. quer a absolvição?
Pissardo - Não. Eu sempre afirmo que não quero que meu irmão seja absolvido, ele é réu confesso.
Folha - Ele usava alguma droga?
Pissardo - Não. O Gustavo nunca colocou um cigarro na boca.
Folha - Como ele era em casa?
Pissardo - Ele era esforçado. Trabalhava e estudava. Em todos os colégios pelos quais ele passou era considerado um ótimo aluno, bem melhor que eu. Tinha a vida dele certinha. Não dependia do meu pai para nada. Todo mês de janeiro, íamos para a praia. Todas as férias a gente já se programava para ficar sempre juntos.
Folha - A família já havia percebido algum indício de que Gustavo tivesse algum distúrbio mental?
Pissardo - Ele tinha desmaios quando era criança. Mas isso acabou com um tratamento.
Folha - O Gustavo toma algum tipo de medicamento?
Pissardo - Não. O pessoal da Casa de Custódia ajuda muito. Todos conversam muito com ele, tentam ajudá-lo a resgatar sua memória, forçando ele a ficar sempre lúcido, para que um dia ele possa responder o motivo disso tudo.
Folha - O sr. já ouviu comentários de ter sido beneficiado com o caso em razão de ter ficado com a herança de seu pai?
Pissardo - Isso não tem nexo nenhum. O que um metalúrgico pode deixar que justificasse Gustavo fazer tudo aquilo?
Folha - O sr. acha que a conclusão foi dada sem que o júri tenha tomado conhecimento do laudo?
Pissardo - Acho que sim. O José Carlos (advogado de defesa) leu as partes mais conclusivas do laudo, mas ninguém deu atenção.
Folha - Gustavo tentou suicídio?
Pissardo - No começo, quando ele confessou. Ele pensou em se matar. Eu conversei muito com ele e disse: "Você sujou, mas vamos limpar isso de cabeça erguida".

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