São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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Veja os principais momentos da sessão que ouviu o presidente do Bradesco

"A Paper está em 90%/95% da ponta final de todos os negócios do Bradesco"
"Se o banco não comprar título nenhum, isso fica um papel de mão"
"O banco comprou e aconteceu o que a CPI apurou. Fora disso, é hipótese"
A seguir, a transcrição dos principais momentos da sessão da CPI que ouviu o presidente do Bradesco, Lázaro Brandão, e o vice-presidente da instituição, Ageo Silva.
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Roberto Requião - Sr. presidente, pela ordem. A nossa testemunha tem toda a liberdade para juntar o texto escrito que traz à comissão para ser analisado pelos srs. senadores, mas não pode lê-lo integralmente, pois passa a ser um depoimento escrito, o que não admite o regimento interno do Senado Federal.
Bernardo Cabral - Quero dizer a esta comissão que quem preside esta comissão é o presidente e não vou abdicar da prerrogativa de presidir. Dei a palavra ao depoente para fazer uma suscinta exposição, como tem feito os demais. Estou vendo que é breve, de modo que continua com a palavra v.sa. para esta exposição.
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Lázaro Brandão - Cumpre-nos, contudo, adiantar, que o Bradesco, desde a implantação do mercado aberto no Brasil, no ano de 1968, compra, vende e financia títulos públicos. Por filosofia, o Bradesco não participa dessa apuração de lançamentos de títulos públicos estaduais ou municipais. Adquire no mercado, a preços compatíveis, desvinculados de como chegam às nossas mãos, já que são documentos registrados nas centrais de liquidação e custódia, Selic e Cetip, o que confere legitimidade e segurança às operações.
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Requião - Peço ao nosso assessor, Haroldo, para que coloque rapidamente as negociações do banco Bradesco sobre os títulos da dívida pública.
Haroldo - Temos neste primeiro quadro um resumo das operações rastreadas envolvendo o Bradesco. (...) Foi possível a realização de dez rastreamentos. Foram rastreadas dez aquisições do Bradesco. (...) Quando o Bradesco comprou, o lucro proporcionado nessas aquisições totalizaram R$ 50.378.000 e, quando o Bradesco vendeu, o lucro proporcionado foi de R$ 600 mil, de forma que o lucro total de operações na qual o Bradesco estava numa das pontas, tanto na ponta final como comprador, como para a compra inicial, como vendedor, totalizou R$ 51.979.354,03.
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Haroldo (...) O importante a salientar aqui é a incrível semelhança entre as instituições que ocupam determinada posição dentro dessa corrente, dessa cadeia de instituições, ser exatamente a mesma da que foi mostrada anteriormente, exatamente a mesma do rastreamento número 3. Isso é de uma improbabilidade total, é um número matematicamente insignificante. Calculado com base no número de instituições financeiras do país, que é em torno de 14 mil, ele é 0,000... -63 zeros, é uma probabilidade impossível de se repetir por acaso.
Requião - (...) A Paper está em 90%/95% da ponta final de todos os negócios em que o Bradesco participa. Recebo uma informação por telefone, quero checar com o Sr. Lázaro Brandão, que a Paper é gerenciada, é operada ou tem como sócio um cidadão chamado Edinho, ex-funcionário do Bradesco.
Lázaro Brandão - (...) Sobre o Edson Ferreira, ele saiu do banco espontaneamente há mais de 10 anos e provavelmente se dirigiu a essa empresa Paper. Acredito..... conhecimento desse fato... Quando ao que foi exposto, essas probabilidades matemáticas consideradas absurdas, o banco tem a convicção plena e através de auditorias externas e internas, através de um acompanhamento regular, o banco trabalha com absoluta lisura
Ageo Silva - (...) Quanto à coincidência existente no roteiro desses papéis até chegar às mãos do banco, às operações de compra, é um fato totalmente desconhecido de quem compra. Não conhecemos, não podemos conhecer em hipótese alguma, a via percorrida pelo papel. Quando uma instituição nos oferece um papel para adquirir, nós examinamos as condições de rentabilidade, de vencimento, de lote conhecido, de interesse para a carteira. Esse estudo pode demorar uma, duas horas, através da assessoria técnica, e depois a operação é fechada. (...) As operações, para nós, são absolutamente legítimas. Quem as ofereceu ao banco são instituições financeiras credenciadas pelo Banco Central, que têm, por isso, acesso a qualquer outra instituição compradora. No caso do Bradesco, é potencialmente uma instituição compradora, dado seu volume de fundos que administra, as carteiras de reservas técnicas de seguradora, de previdência privada, de capitalização, que administramos. São volumes elevadíssimos e examinamos todas as possibilidades. Agora, Bradesco não procurou essa instituição para comprar. O Bradesco é passível de ser procurado para ser um comprador de papéis.
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Roberto Requião - Quero deixar claro, presidente, que a Paper não é uma das operadoras do Bradesco: é a operadora do Bradesco no mercado secundário, estatisticamente. Quero deixar claro, também, que esse atropelamento da lei das probabilidades é absolutamente razoável. Confesso que esperava, do Bradesco, neste momento, uma declaração clara de que estava investigando esse roubo no mercado para que os correntistas dos fundos não mais corressem esse risco. O fato de o banco ganhar algum dinheiro não significa rigorosamente nada. Numa dessas tardes, o senador José Serra, que é economista, deixava claro que a noção de lucro não se prende apenas à ausência de prejuízo. Se alguém toma um dinheiro de terceiros e pode aplicá-lo a 20% e o aplica a 2%, tem lucro, mas o dono do dinheiro perdeu 18%. Essa é a minha preocupação. Estou vendo que a linha de depoimento do Bradesco é de homologar esse tipo de operação.
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Ageo Silva, vice-presidente do Bradesco - (...) Nós, como profissionais de mercado, se conhecêssemos o roteiro percorrido pelos papéis, como hoje estamos conhecendo, após a instauração dessa CPI, evidentemente nós não estaríamos adquirindo, ou não estaríamos na ponta compradora.
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Ageo Silva - (...) Então, nós, por decisão interna, no início exercemos o arbítrio que o banco tem. Estamos operando apenas no mercado secundário. Por quê? Qual a razão? Quando entramos no leilão primário, estamos jogando com hipóteses de comprar bem ou comprar mal, dependendo do número de participantes. E a experiência, ao longo desses anos, nos mostrou que podemos comprar, adquirir no mercado, a preço médio de mercado, os papéis que convêm às nossas carteiras, oferecendo a rentabilidade que desejamos para os nossos clientes. Requião - (...) Uma pergunta ao sr. Lázaro Brandão. Tivemos o depoimento do sr. Fausto Solano Pereira, que declarou com todas as letras, e isso faz parte dos registros desta comissão, que coordenava operações das quais o Bradesco participava, inclusive utilizando o seu avião ou avião fretado, ou helicóptero comprado por leasing do Banestado, para levar grupos de diretores de bancos à Cidade de Deus, onde ele expunha as vantagens que poderiam obter com a negociação do banco Bradesco. O Sr. Fausto Solano Pereira é um "dealer", é um grutter (sic), é um negociante, que seria o "dealer", o negociador, ou um corretor ou um comissário do Bradesco?
Lázaro Brandão - Não, não tem nenhum vínculo estreito com o banco. Tinha o homem de negócios, como corretora de mercado. Trouxe algumas operações que o banco fez, outras que o banco não fez e através das áreas competentes. Particularmente, atuava na área de debêntures, portanto, na área de mercado de capitais, onde o banco tem uma liderança e um jogo também muito grande, e as operações eram aumentadas com parcerias de bancos, naturalmente da rede com as avaliações, mas ele não tinha -o sentido da pergunta- nenhum privilégio dentro da organização.
Requião - O sr. Fausto Solano Pereira era um homem muito influente no mercado, inclusive entre as estatais. Foi o sr. Fausto Solano Pereira que agendou e acompanhou o presidente da Ferroeste do Paraná numa audiência ao BNDES. E aqui nesta comissão, o sr. Fausto Solano Pereira disse que era homem da sua mais absoluta confiança. O senhor confirma essa hipótese?
Lázaro Brandão - Reservo-me, como sendo uma questão de foro íntimo, de não responder.
Ageo Silva - Se o senhor me permite, sr. presidente, gostaria de comparar, fazer uma parábola, mas os papéis adquiridos pelo Bradesco entraram na nossa carteira e todos a preços de mercado. Seria mais ou menos como se fôssemos os compradores de um automóvel. Posso comprar na concessionária a, b, c ou d ou ter uma mais ágil que sempre me ofereça veículos, mas o preço é R$ 20.000. Pode ser R$ 19.900 ou R$ 20.050, ou R$ 19.950, mas está em termos disso. Agora, se aquela concessionária conseguiu o carro a R$ 15 mil, o problema não está conosco, porque compramos a preço de mercado, e, sim, àquele que vendeu, que, por certo, seria uma montadora, ou seja, qual for o outro que repassou esse veículo. Não sabemos quais as benesses que ele possa ter tido ou se possa ter havido uma sonegação, mas o fato é que, quando chegou a ser oferecido para potenciais compradores finais, esses chegaram a preços de mercado, ou seja, a níveis de mercado. Catalogamos todas as operações que a nossa carteira (sic) realizada.
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Roberto Requião - Sr. Lázaro Brandão, se o Bradesco deixasse de comprar esses títulos na operação final, o que aconteceria com a operação? Os títulos não cairiam e voltariam imediatamente ao fundo de liquidez por falta de comprador? Porque essa sucessão de empresas não tem dinheiro para garantir a titularidade dos títulos. Não cairiam?
Lázaro Brandão - Seria truncada a operação.
Requião - A operação cairia inteiramente.
Lázaro Brandão - Seria truncada.
Roberto Requião - Então, o que o sr. Fábio Nahoum diz com toda a clareza é o seguinte: quem tem dinheiro manda no negócio. Certo ou errado?
Lázaro Brandão - Depende como se queira interpretar, quer dizer, o banco está habilitado, gere fundos e tem capacidade de comprar o papel que lhe convém.
Lázaro Brandão - É uma hipótese que pode ser que tivesse o mercado (sic), tivesse chance. É uma hipótese que está sendo levantada. O banco comprou e aconteceu o que a CPI investigou. Fora disso, estamos falando em hipótese.
Bernardo Cabral - O vice-presidente Ageo Silva quer prestar alguns esclarecimentos ao eminente relator.
Ageo Silva - Gostaria de me.... ao pronunciamento do sr. Fábio Nahoum, que disse que não teve nenhum lucro. Na operação demonstrada aqui, há pouco na transparência, na operação que o Bradesco comprou no dia 23, ele aparece ganhando R$ 7,910 milhões. Estão
Requião - Se o Bradesco não tivesse comprado esses títulos, o Nahoum teria esse lucro?
Ageo Silva - Eu gostaria de responder, sr. presidente. Evidentemente que, se o banco não comprar título nenhum, isso fica um papel na mão. E os precatórios vão ser executados. Não sabemos o que ia acontecer.
Requião - (...) Um título comprado com ágio, quando poderia ter sido comprado com deságio, utilizado como lastro, causa perda ao cliente ou ao banco? Essa perda existe, sr. Ageo. Acho que temos de estabelecer aqui um mínimo de racionalidade no que
Ageo Silva - Sr. presidente, eu gostaria de afirmar que o banco não perde nem o cliente perde.
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Odacir Klein - Uma outra informação que é importante para nós, dr. Lázaro: leilões. O sr. disse que é política do banco não comprar no mercado primário e, sim, depois que o título já produziu o seu preço no mercado. Mas o banco acompanha esses leil
Ageo Silva - Senador, o Bradesco, por não ser um comprador de leilões de títulos estaduais e municipais, não acompanha os jornais para ver o que vai se comprar, oferecido, ofertado no mercado. Ocasionalmente, evidentemente, podemos tomar conhecimento, mas
Emília Fernandes - Gostaria de saber o seguinte: as operações dos dias 23 e 31 de julho, especificamente, foram acertadas com a Paper através de que
Ageo Silva - (...) O contato, a senhora pergunta para quem foi: foi na mesa operacional. A instituição vendedora, que no caso foi a Paper, ofereceu à nossa mesa no Rio de Janeiro. A mesa pediu um tempo para examinar a operação. Ela foi examinada no primeir
Emília Fernandes - O sr. poderia precisar o tempo que levou essa negociação, esse retorno, esse "de acordo", vamos dizer? Normalmente, qual é o tempo que demora?
Ageo Silva - Uma operação dessa, sra. senadora, pode demorar de meia hora a uma hora, a uma hora e meia, duas horas e, se a senhora me permite, exatamente naquele dia, não sei lhe precisar, mas deve ter demorado em torno de uma hora e meia, duas horas para
Emília Fernandes - Os srs. têm nos registros das empresas esses contatos que foram realizados. Pediria ao sr. presidente, através do relator Roberto Requião, se o Bradesco pudesse nos precisar esse contato telefônico, que foi feito entre o Bradesco e a Pap
Ageo Silva - Posso responder aqui agora. Já prevendo que essa pergunta pudesse ser feita, essa operação foi oferecida pelo sr. Edson Ferreira ao nosso diretor da mesa de open no Rio de Janeiro, sr. Katsumi Kehara, que é também operador. Além de ser diretor do departamento ...
Emília Fernandes - Pediria que o depoente depois pudesse complementar as informações, com número telefônico, data, horário que chegou e saiu do Bradesco, e o "de acordo". É por isso que digo que ele não precisa responder agora. Ele posteriormente poderá nos enviar essas informações, através do seu extrato telefônico.
Bernardo Cabral - A senadora, de fato, faz essa indagação, porque está cruzando os telefonemas e é responsabilidade dela, apenas para dar maior ilustração ao relatório final.
Ageo Silva - Sr. presidente, só para orientar essa questão, ligações dentro da mesma praça não têm registro. Inclusive, o sistema de "open market" tem um sistema próprio de Spot, ou seja, aperta uma tecla e cai na outra instituição. É uma central comum ao mercado.
Emília Fernandes - Não consegue identificar nem o número que recebeu e o que foi chamado para...
Ageo Silva - Vamos fornecer o número dessa central. Agora, é uma central comum a todo o sistema, que é de teclas onde apertou uma tecla aqui e já está chamando em outra instituição.
Emília Fernandes - Estamos diante então daquilo que estamos confirmando a cada dia mais. As coisas se operam dentro de determinados momentos e impedindo um esclarecimento e uma constatação mais exata. Isso é o normal que acontece em todas as instituições.
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Emília Fernandes - Faria uma pergunta específica ao Dr. Ageo, se possível responder. O Dr. Ageo poderia esclarecer se possui um filho que foi ou continua sendo sócio do Sr. Fausto Solano? Encerraria, sr. presidente.
Ageo Silva - Sr. presidente, data vênia, considerando que a pergunta não seja tão pertinente, mas meu filho foi, no passado, sócio, uma vez que ele era funcionário da Pecplan, uma empresa do Bradesco que foi vendida, mas já reverteu essa posição e não é sócio.
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Eduardo Suplicy - Dr. Lazaro Brandão, tem v.sa. conhecimento de contato próximo, da natureza, da qualidade desse contato, que o sr. Fausto Solano Pereira teria tido no período abrangido pela CPI com os chefes do Executivo, em especial desses que estamos examinando, de Santa Catarina, Pernambuco, prefeito de São Paulo, no período examinado, e a atual prefeitura, uma vez que era Secretaria Municipal das Finanças?
Lázaro Brandão - Nenhuma.
Suplicy - Muito obrigado.

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