São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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Cepal adapta discurso aos anos 90

IGOR GIELOW
DA REPORTAGEM LOCAL

A Cepal, um dos bastiões do nacionalismo desenvolvimentista dos anos 50 e 60 no Brasil, está adaptando seu discurso para os confusos anos 90.
Ontem, Fernando Henrique Cardoso lembrou os anos em que trabalhou junto à entidade, nos mesmos anos 50 e 60, quando falava dos desafios do desemprego.
Ao mesmo tempo em que critica a exclusão social do chamado neoliberalismo, a Cepal aplaude a redução geral da pobreza que a estabilidade econômica em países como o Brasil promoveu.
"O êxito é parcial", resume o secretário da Cepal, Ernesto Ottoni.
Boa parte da teoria sociológica que deu fama a FHC é uma leitura do trabalho de Raul Prebisch.
Argentino, Prebisch lançou em 1949 um estudo seminal sobre o que deveria ser a Cepal para a região, "Desenvolvimento econômico na América Latina e seus principais problemas". A entidade havia surgido um ano antes.
O hoje deputado federal Roberto Campos (PPB-RJ) definiu os quatro pilares da Cepal, elaborados por Prebisch: substituição das importações; anti-monetarismo (ou seja, negação à idéia de que apenas medidas monetárias sustentam a economia); planificação econômica do governo e; suspeita de todo capital externo.
Campos culpa esses princípios, entre outros, pela decadência latina das décadas seguintes.
Na década de 60, FHC releu Prebisch ao lançar suas teorias de desenvolvimento econômico. Campos, na época, o atacou. Hoje, nutrem admiração mútua.
O próprio Ernesto Ottoni, ao propor a educação como grande pilar da integração latino-americana ao chamado mundo globalizado, empata com argumentos apresentados pela revista britânica "The Economist" nesta semana.
"É preciso capacitar o trabalhador como fazem na Coréia", disse Ottoni. A "Economist", bíblia do mundo capitalista, colocou a Coréia do Sul no topo de uma lista de países que preparam seus profissionais com ensino básico -e, com isso, preparam-se para engolir EUA e Europa no século 21.
Mas a Cepal não esquece alguns ideais. "Não podemos pensar que o privado vai fazer tudo. Isso é erro. O privado não vai se interessar em uma escola rural, mas ela é necessária para o país", disse Ottoni.
O secretário faz então uma apologia a um "caminho do meio" para a questão. "Parceria em campos estratégicos é a palavra".
(IG)

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