São Paulo, terça-feira, 8 de abril de 1997
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Pagode destoa do conjunto

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

O viço de voz já não é o mesmo dos tempos primeiros dos Novos Baianos, do período 69-74. Mas Paulinho Boca de Cantor continua a fazer justiça ao nome artístico. Aqui, em particular, poderia ser apelidado Paulinho Boca de Sambista, que "Todos os Sambas" é, mesmo, um painel cuidadoso do decorrer da história desse gênero exclusivamente brasileiro.
Por conta do mercado, ele é levado a abrir seu CD com "A Sombra da Solidão", boa composição executada em arranjo que pouco fica a dever ao mais pasteurizado pagode de butique que hoje viceja por aí -e não faz jus ao pagode em si.
Por conta de alguns descompassos, utiliza-se de insistente coro vocal feminino que tende mais à artificialidade que à espontaneidade.
São, no entanto, detalhes. Passado o susto da faixa inicial, o disco conta com a perícia de músicos que fizeram a cozinha inesquecível da música dos Novos Baianos -com participação de Moraes Moreira, Jorginho Gomes e Dadi, todos egressos da mais importante banda brasileira dos 70.
E conta com seleção primorosa de sambas que fazem as honras da tradição, passando por Cartola, Ataulfo Alves, Ary Barroso (citado por Ataulfo), Geraldo Pereira (evocado indiretamente pela crônica humoradíssima contida em "Risoleta"), Paulo da Portela (citado por Cartola), Wilson Batista, Antônio Maria e Luiz Bonfá, João Gilberto, Zé Keti.
Acertadamente, Paulinho ignora a desconstrução do samba operada no final dos 60 pelos tropicalistas, e retorna com emoção ao resgate do samba operado pelos pós-tropicalistas Novos Baianos.
"Samba dos Novos Baianos" surge assim como auto-homenagem que não se entrega ao auto-elogio, mas simplesmente documenta fatos históricos. É um dos pontos altos do disco.
O mesmo não acontece quando desafia registros geniais em sua origem, como na reinterpretação das canções dos 70 dos Novos Baianos ("Besta É Tu" nem chega perto da versão de origem) ou em "Manhã de Carnaval", que já conta com gravação inquestionável de João Gilberto. Aí é difícil competir. Mas tudo OK, não é isso mesmo que Boca pretende. O que pretende é dizer: "Viva o samba!". Está dito. (PAS)

Disco: Todos os Sambas
Artista: Paulinho Boca de Cantor
Lançamento: RGE
Quanto: R$ 18, em média

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