São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Para adversários, verba foi desviada para fins políticos

XICO SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL

Os adversários do governador Miguel Arraes (PSB) apostam que o dinheiro arrecadado com a venda de títulos para o pagamento de dívidas judiciais (precatórios) teve como um dos destinos as campanhas eleitorais vitoriosas do seu partido no interior do Estado.
O esquema político do governador, comandado pelo neto e secretário da Fazenda, Eduardo Campos, conquistou a maioria das 167 prefeituras pernambucanas.
Alguns perdedores, como Lula Cabral (PPB), que concorreu à Prefeitura da cidade do Cabo, se queixam de um "derrame" de recursos para os arraesistas na reta final da campanha.
"O jogo foi pesado nos últimos dias, com muito dinheiro e uma estrutura muita cara de campanha", diz Cabral, derrotado por Elias Gomes (PSB).
O governo de Pernambuco reconhece que para pagar os precatórios empregou apenas 5% dos R$ 402 milhões arrecadados com a venda dos títulos emitidos em 1995. Mas, nega o uso desses recursos em campanhas eleitorais.
Segundo Arraes e Campos, o dinheiro foi utilizado para pagar o 13º salário dos servidores, para a construção de obras e serviços para a faixa mais pobre da população, como eletrificação rural.
PFL cordial
Com adversários como os deputados do PFL pernambucano, Arraes não tem sido incomodado politicamente como poderia.
Sem vocação para fazer oposição barulhenta, o PFL tem agido sem vigor, ignorando o fato de o principal adversário regional estar sendo alvo da CPI do Senado.
A Assembléia Legislativa reprovou recentemente o pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a emissão irregular de títulos do Estado. Foi aprovado apenas a instalação de uma comissão para acompanhar, à distância, as atividades da CPI do Senado.
O deputado Romário Dias (PFL) diz, no entanto, que ainda não está totalmente descartada a realização de uma investigação regional.
Um dos fatos que renovou essa possibilidade foi o cheque de R$ 51 mil (emitido pela SMJT) encontrado na conta de Maria Paula Casé, mulher do deputado estadual Oséas Moraes (PSB).
A revelação da CPI dos Precatórios reforçou em Pernambuco a possibilidade de uso político dos recursos. A SMJT funcionou como "laranja" no esquema de irregularidades com títulos públicos.
A emissão e venda dos papéis pernambucanos foram esquematizadas pelo Banco Vetor (que levou R$ 26 milhões pelo serviço) e por Wagner Baptista Ramos, principais responsáveis pelas fraudes, segundo a CPI do Senado.
Oséas Moraes fez dobradinha com Eduardo Campos, em 94, quando este foi eleito deputado federal. Moraes nega que tenha sido beneficiado ou feito parte do esquema dos precatórios. Disse que o cheque equivale a parte de um pagamento de um terreno que teria vendido a um funcionário da SMJT.

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