São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997 |
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FHC diz que recebe sem-terra em Brasília
WILLIAM FRANÇA
"Eles me pediram realmente uma audiência. E, todas as vezes, eu os recebi. Não vejo razão para não recebê-los", disse FHC -pela primeira vez sem impor qualquer condição para o encontro. Antes, FHC dizia que, para receber os trabalhadores rurais, o MST tinha de "respeitar a lei, ter uma agenda com propostas numa disposição nítida de avançar", e não apenas pedir a demissão do ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) ou fazer críticas ao processo de reforma agrária em curso. O presidente, que ontem visitou Rondônia pela primeira vez, escorregou e caiu sobre uma escada de madeira, molhada, que tinha degraus com 30 centímetros de altura, pouco antes de chegar ao palanque presidencial. FHC foi levantado por um segurança -o mesmo que também havia escorregado e caído sobre o presidente- e não demonstrou ter se machucado. Depois brincou: "Gostei tanto de Rondônia que até beijei o chão!". Logo após a queda, FHC alternou momentos de bom humor e de ira, ao referir-se a um grupo de aproximadamente 150 manifestantes -a maioria do MST, que pedia agilidade na reforma agrária-, que protestava com palavrões, vaias e palavras de ordem contra seu governo. "Que as bandeiras do Brasil tremulem para calar a boca de quem não tem respeito nem pelo povo, nem por Rondônia, nem pelo Brasil", afirmou o presidente, pedindo que estudantes e moradores de Porto Velho -que usavam camisetas "FHC 98 OK"- agitassem as bandeiras do PSDB e do Brasil que haviam sido distribuídas. Em discurso, o ministro interino dos Transportes, Alcides Saldanha, saiu em defesa de FHC e disse que as vaias eram gestos de quem não tinha razão para dialogar. Foi chamado de "puxa-saco". Em Rondônia, FHC inaugurou duas obras: uma que está pronta desde outubro de 96 e outra que não teve qualquer recurso federal. A primeira é a quinta turbina da hidrelétrica de Samuel. A outra é a estrutura portuária para o escoamento de grãos pelo rio Madeira. Pouco antes de deixar Porto Velho, às 16h de ontem -enquanto os manifestantes gritavam "Xô, Satanás!"-, FHC voltou a defender mudança no acordo que possibilitaria o acúmulo de aposentadorias para quem estivesse em cargos transitórios. "Não tem que haver nada de extrateto. De todas as emendas apresentadas, a que pareceu que tinha alguma lógica foi a que possibilita esse acúmulo. Mesmo assim, aparentemente houve uma consciência no Congresso de que mesmo assim não valeria a pena. (...) Em princípio, não me pareceu que fosse uma coisa que ferisse tanto assim a consciência coletiva. Não obstante, feriu. Se feriu, melhor. O Congresso deve se ajustar àquilo que a população deseja. (...) Por mim, prefiro que não haja nenhuma alteração", disse FHC. Rainha Ontem, antes das declarações de FHC em Porto Velho, o líder do MST, José Rainha Jr., disse que a marcha para Brasília marca o início de um grande movimento para mobilizar as principais capitais do país. Ele promete uma grande marcha em São Paulo "nos próximos meses". Rainha disse que já pediu audiência com o presidente para o dia 18. Ele ainda não tinha obtido resposta do Planalto. "Como ele diz que os movimentos sociais são importantes para a democracia, esperamos que ele nos receba." Comentando plano da Polícia Federal de desarmar os sem-terra antes que cheguem a Brasília, Rainha afirmou que FHC não tem "autoridade moral" para impedí-los de entrar na cidade com seus machados e foices. Texto Anterior: 'Progressistas' ainda guiam ação da CNBB Próximo Texto: Reforma agrária: compromisso de todos Índice |
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