São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Líder de sem-teto vira 'porta da esperança'

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A líder dos sem-teto de São Paulo, Verônica Kroll, 36, chefe do movimento Fórum dos Cortiços, virou uma espécie de "porta da esperança" dos encortiçados da cidade.
Desde que organizou invasões ilegais em de dois prédios públicos no centro de São Paulo, ela tem sido procurada por pessoas que querem um quarto ou uma vaga em uma das duas ocupações para deixar de pagar aluguel.
A ocupação do casarão de Santos Dumont, na esquina das alamedas Nothmann e Cleveland, em Campos Elíseos (centro de São Paulo), completou um mês no dia 9.
A dos casarões da USP, na esquina das ruas Pirineus e Brigadeiro Galvão (centro), ocorreu há duas semanas, na 'cola' da anterior.
O grupo que ocupou os imóveis da USP estava para ser despejado do cortiço na rua Tomás de Lima, 85, no centro, procurou Verônica depois de ver as matérias nos jornais e na TV sobre a ocupação do casarão.
A invasão foi premeditada. O conjunto da USP consta de uma lista de dez imóveis públicos passíveis de ocupação nos bairros de Campos Elíseos e Barra Funda.
Tem vaga?
Por onde passa, Verônica é abordada. No casarão, um homem perguntou: "A senhora tem uma vaga ou um quarto aqui para mim?"
Ela pediu que ele retornasse sexta-feira (anteontem) para participar da reunião com os moradores.
"Outro dia estava telefonando para um jornalista, de um orelhão, na rua, quando uma senhora começou a me observar. Depois, ela perguntou: 'Você não é a moça que luta pelos encortiçados, que vive sempre na televisão?"', conta.
A mulher disse que queria ajuda pois os moradores do cortiço onde morava iriam ser despejados.
Segundo Verônica, todo dia moradores de cortiço são despejados em São Paulo. Enquanto a Folha apurava esta reportagem, seis famílias de um cortiço na rua Lopes de Oliveira, 218, em Campos Elíseos, foram despejadas.
"O pessoal despejado ainda é silencioso, e o poder público não se dá conta desse contingente", afirma José Laurindo de Oliveira, coordenador da Associação em Defesa da Moradia, entidade de advogados que assessora entidades de sem-teto, e auxiliou os moradores do cortiço.
Com suas recentes invasões ilegais, Verônica ganhou notoriedade. Mas sua entidade não é única dos sem-teto de São Paulo.
São cerca de 50 grupos ligados à questão da moradia que existem na cidade. Eles pretendem ganhar espaço e se transformar numa espécie de MST urbano.
O Fórum dos Cortiços, de Verônica, já tem representantes em nove bairros de São Paulo.

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