São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Chefe diz ser militante 'vacilante' do PT

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A líder dos sem-teto, Verônica Kroll, é filiada ao PT desde o final da administração Luiza Erundina (1989-1992). "Dentro do movimento tem gente do PT e de outros partidos, a pessoa se filia se quiser", afirma.
A própria Verônica afirma não ter muito tempo para se dedicar ao partido e confessa ser uma militante vacilante do PT.
"Sou filiada, mas não milito. Recebo os jornais do partido e me informo sobre as discussões, mas não tenho tempo para ir às reuniões e plenárias."
Verônica nega ter pretensões políticas. "Nunca tive e aposto que nunca vou ter. Se eu um dia entrar num gabinete, não sei se vou poder fazer o que estou fazendo hoje."
Expulsa de casa
Verônica nasceu em Ortigueira, no norte do Paraná (28.716 habitantes, segundo a contagem do IBGE de 1996).
Aos 18, mãe solteira, foi expulsa de casa pelo pai, o agricultor Damião Kroll, descendente de alemães.
Até então, trabalhava na lavoura, na cidade de Telemaco Borba, no norte do Paraná, onde concluiu o 1º grau.
Hoje Verônica faz supletivo do 2º grau e pretende prestar vestibular para direito.
Após trabalhar quatro anos num supermercado de Curitiba, Verônica perdeu o emprego durante a crise econômica que assolou o país no início dos anos 80.
Em 82, por meio de uma agência de empregos, conseguiu vaga de doméstica em São Paulo.
Meses depois, o patrão se suicidou e Verônica ficou desempregada de novo.
Foi quando conheceu o marido, o pernambucano Damião Manuel dos Santos, 37, metalúrgico, hoje aposentado por invalidez.
Seu primeiro contato com cortiços foi naquela época. "Eu sempre perguntava onde o Damião morava, mas ele nunca me mostrava onde era. Um dia mostrou. Era um cortiço na rua Tabajaras, 481, Mooca (zona leste). Vivemos lá até 1987."
O casal teve uma filha, Karen Lúcia Verônica dos Santos, 11, e adotou Stephanie Dias Ferreira, 10, filha de um casal de militantes por moradia da zona leste, cuja mãe morreu em decorrência da Aids.
O início da luta
Assim que se mudou para o cortiço, Verônica recebeu o convite de uma vizinha para participar de uma reunião.
"A mulher me dizia que o governo ia dar casa para a gente. Fui de curiosa. A reunião era, na verdade, de uma associação de moradores do cortiço, que lutava por mutirões habitacionais."
"Aí eu fui na primeira, na segunda; na quarta reunião já fui convidada para participar da liderança."
Após muita insistência dos moradores, o prefeito da época, Mário Covas, iniciou três mutirões. Em 24 de dezembro de 85, Verônica recebeu a escritura do terreno onde construiu sua casa, hoje situada no bairro de Jardim Ivone, zona leste.
Foi naquela época que Verônica participou de sua primeira invasão. Moradores de cortiços da Mooca, insatisfeitos com a demora no início do mutirão, invadiram um prédio na rua Paes de Barros, onde hoje funciona um órgão da Secretaria da Família e do Bem-Estar Social. "Ficamos uma semana lá", lembra.
A casa de Verônica ficou pronta em 87. Apesar de não ser mais uma sem-teto há dez anos, ela continuou ligada a movimentos por moradia todos esses anos, fundando o Fórum dos Cortiços, no final de 93.
"Meu envolvimento com o movimento tem muito a ver com a minha vida. Tive tudo no Paraná, de repente não tinha mais nada. Vim cair aqui, num cortiço, trabalhando de doméstica, sofri muito, às vezes com apenas arroz, feijão e sal para comer."
Lazer
Quando encontra tempo, Verônica leva as filhas para passear ou viaja para o Paraná, onde esteve pela última vez em 95. "Este final de semana, aproveitei um seminário da União dos Movimentos por Moradia da zona leste, em uma colônia de férias em Praia Grande, e levei as crianças à praia."
(MO)

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