São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Carro gerou gasto hospitalar de US$ 785 mil em 89

ROGERIO SCHLEGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Qual o custo de um automóvel para a sociedade? A conta é difícil de fazer, mas há todas as pistas de que vai muito além do dinheiro necessário para erguer pontes e asfaltar ruas.
Há custos praticamente insuspeitos que todos os contribuintes pagam sem perceber, como aponta documento da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo.
Estudo tendo como base o ano de 1989, feito em bairros de São Paulo em que viviam 2 milhões de pessoas, estimou em US$ 785 mil os gastos hospitalares associados à poluição do ar.
Nesse universo, a inatividade gerada pelas doenças relacionadas à poluição representou valor estimado em US$ 351 mil e as mortes, em US$ 1 milhão.
E os veículos não têm rivais em matéria de poluir. Segundo a secretaria, em 1995 eles produziram 98% do monóxido de carbono, 97% dos hidrocarbonetos e 97% dos óxidos de nitrogênio lançados no ar da Grande São Paulo.
Quando há aumento da concentração desses poluentes, cresce o número de internações e o aparecimento de doenças, em geral relacionadas ao aparelho respiratório.
A poluição provoca dores de cabeça, mal-estar e causa piora em pessoas com problemas respiratórios e cardiovasculares, podendo até facilitar a morte.
Altas concentrações de partículas inaláveis -pequenas a ponto de entrar pelas vias respiratórias e produzidas em grande quantidade pelos motores diesel- fizeram crescer em 13% a mortalidade de crianças com menos de 5 anos e de idosos com mais de 65, de acordo com estudo da Faculdade de Medicina da USP.
Tempo perdido
A lentidão do tráfego faz a região metropolitana desperdiçar 2,4 milhões de horas de seus moradores por dia, na comparação com o que seria gasto com um sistema de transporte eficiente.
Nessa área, o documento cita dados do Ministério do Trabalho apontando queda de 4% na produtividade do funcionário a cada dez minutos adicionais no trajeto entre casa e trabalho.
A Comissão das Comunidades Européias, por exemplo, estimou em 2% do PIB (Produto Interno Bruto) as perdas com congestionamentos. Os acidentes representariam 1,5% e a poluição, 0,4%.
Sem falar na perda de qualidade de vida. "Quanto maior é o número e o fluxo de carros, menos se pode usar a rua para outras finalidades, como o lazer", diz Silvio Soares Macedo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
"Dirigir em São Paulo é, naturalmente, um desgaste. As pessoas guiam de maneira selvagem e não é possível sobreviver se você não se integrar, sendo selvagem também", avalia o professor de sociologia Sedi Hirano, que voltou a São Paulo recentemente, depois de morar dois anos no Japão.
Por tudo isso, há quem proponha cobrar mais impostos sobre o uso do carro. "É discutível que os impostos que pagamos hoje cubram o custo real de rodar na cidade", afirma o consultor Eduardo Vasconcellos. "É preciso sobretaxar o uso abusivo do automóvel."
Essa também seria uma forma de favorecer o transporte coletivo na disputa de passageiros com o carro.
(RSc)

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