São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Elas adoram homem 'manteiga-derretida'

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Homem que se emociona facilmente corre o risco de ser chamado de "bicha", mas isso não é motivo para chorar mais ainda: o designer João Christiano Grubber, 19, diz que nunca se importou com os xingamentos dos colegas na época da escola.
"Eu era a bicha da turma", ele conta, ao lado da namorada, a multimídia Gabriela Previdello, 22, que, por sua vez, só gosta de homens muito emotivos. Ela faz a defesa do tipo sensível.
"É engraçado imaginar que todos os homens sensíveis sejam bichas. Conheço homossexuais muito mais agressivos do que heteros, inclusive no relacionamento com outros homens. Fazem assim exatamente para ninguém dizer que eles são bichas", afirma.
Gabriela diz que (bicha ou não) tem "horror a brucutu (homem rude no trato)". "O pior é que eu atraio esse tipo", diz.
Ela conheceu o namorado há quatro meses, por intermédio de uma amiga. João Christiano lembra que estava prestes a "desistir".
"Não encontrava ninguém que me emocionasse", conta ele, que procurou bastante.
"Mandei imprimir um cartõezinhos de visitas e passei a entregá-los a toda mulher que me interessava na rua", lembra. "Muita gente me ligava de volta."
"Alô? Quem é você?"
"Eu perguntava: 'Quem é você?', e a pessoa respondia: 'Fulana de tal'. Mas eu queria que ela me dissesse algo mais visceral."
Uma das que ligaram foi a tal amiga de Gabriela. O namoro começou em uma festa na casa dela (leia depoimento ao lado).
João Christiano diz que não se emociona com tudo que vê ou ouve, mas também que não tem hora para se emocionar.
"Às vezes acordo de madrugada só para ouvir a quarta parte da terceira sinfonia de Brahms e chorar compulsivamente", conta.
Gabriela fica sensibilizada com o hábito do namorado, mas tem mulher que acha "demais da conta". "Essa história de chorar por tudo me deixa nervosa", diz a melhor amiga de Gabriela, Andréa Manghini, 24.
Andréa namorou um tempo um rapaz que se emocionava até com novela de TV. "Às vezes eu me perguntava o que eu estava fazendo ali", lembra.
Ela afirma que o namoro acabou em choradeira. "E olha que quem terminou foi ele", lembra.
Para Andréa, o limite entre a emoção e a chatice é muito tênue. "Passou de um certo ponto, ninguém aguenta", afirma.
Samba-fossa
João Christiano não é o primeiro namorado emotivo de Gabriela Previdello. Sem medo de ser infeliz, o empresário Cássio Machado, 34, ex-namorado dela, explica sua propensão à fossa.
"Sou peixes com ascendente em peixes", diz ele. "É o signo mais sensível do zodíaco. Adoro ouvir música de dor-de-cotovelo, boleros, blues, sambas-fossa."
Machado explica que, apesar de ser muito sensível, é muito seletivo quando se trata de chorar.
"Com o filme 'O Paciente Inglês', por exemplo, não derramei uma lágrima", diz. "Já 'O Morro dos Ventos Uivantes', posso ver 20 vezes que choro sempre."
A atual companheira de Machado, a bailarina Adriana Lessa, 27, é taxativa. "Homens durões não significam nada para mim", diz.
"Todo mundo sente dor. Por que o homem tem de bancar o inatingível até quando corta o dedo?"
Adriana acredita, contudo, que muitas mulheres se sentem atraídas por "durões". "Elas têm a fantasia de modificá-los."

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