São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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Asean apóia autonomia do Mercosul

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O secretário-executivo da Associação das Nações do Sudeste Asiático, embaixador Dato Ajit Singh, defende uma aproximação com o Mercosul visando fortalecer a autonomia dos sistemas regionais diante das grandes potências.
Em debate promovido no auditório da Folha, no dia 3 de abril, Singh insistiu na importância dos laços políticos, tema de sua visita ao Brasil e à Argentina.
Singh foi embaixador da Malásia no Brasil entre 1985 e 1989 (acumulando, no mesmo período, a representação junto a Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela).
O debate foi promovido em conjunto com o Centro de Estudos Estratégicos (CEE) da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
Na área econômica, crescem as relações entre o Brasil e os "tigres" do Sudeste Asiático, principalmente no comércio exterior. Na América Latina, o Sistema Econômico Latino-Americano (Sela) vem defendendo uma estratégia de aproximação entre os governos das duas regiões.
A Asean foi criada em agosto de 1967 em Bancoc, Tailândia, por cinco países: Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Tailândia. Brunei juntou-se ao grupo em 1984 e, em julho de 1995, o Vietnã foi incorporado. Laos e Camboja devem entrar em 1997.
A instituição fixava três objetivos estratégicos: promoção do desenvolvimento, defesa da estabilidade política em contraposição aos conflitos entre as grandes potências e criação de um foro intra-regional para questões de segurança. Trinta anos depois, os países da Asean respondem por um comércio (importações e exportações) da ordem de US$ 550 bilhões.
Um dos aspectos importantes da Asean é a aproximação entre as questões econômicas e a busca de um contraponto regional na área da segurança.
No panorama dos sistemas econômicos regionais atuais, a associação projeta um modelo de integração entre potências médias que lembra o próprio Mercosul. A Asean patrocina um projeto próprio de integração, a Afta (Área de Livre Comércio da Asean).
O modelo, segundo o relatório publicado pelo Sela, é centrado nas exportações, com altas taxas de poupança interna e forte investimento produtivo, sobretudo com uma participação vigorosa de investimento direto estrangeiro.
Vários países seguiram uma estratégia que ficou conhecida como "substituição de exportações". Diante da queda nos preços das matérias-primas nos mercados internacionais nos anos 60 e 70, houve fortes investimentos para a criação de capacidade industrial exportadora.
Segundo Carlos Moneta, o argentino que atualmente ocupa a secretaria executiva do Sela, temos muito a aprender com as políticas de desenvolvimento adotadas pelas economias do Sudeste Asiático. Elas combinam ação do Estado e fortalecimento da iniciativa privada, investimento em pesquisa tecnológica e recursos humanos, poupança doméstica e captação externa.
A aproximação entre o Brasil e a Asean começou, segundo o embaixador Singh, na última reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC). O próximo passo é a participação de ministros latino-americanos na reunião da Asean, que acontece em outubro.
Para quem ainda acha que os mercados asiáticos são algo exótico, Eliana C. Bussinger, do Banco do Brasil, esclareceu no debate que empresas brasileiras já participam de um dos projetos centrais da Asean, a integração ao longo do rio Mekong. O banco aposta na aproximação entre o Mercosul e a Asean.
Os professores Henrique Altemani (da USP) e Paulo Visentini (da UFRGS) questionaram Singh sobre qual seria o papel dos Estados Unidos numa aproximação entre Brasil e Asean. O secretário-executivo fez, então, questão de afirmar que o objetivo da Asean é precisamente o de evitar que as questões regionais fiquem sujeitas a interferências de potências globais.
Qualquer semelhança entre o discurso de Singh e a atitude brasileira de confrontar o cronograma norte-americano de integração continental pode não ser mera coincidência.

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