São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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INFORMÁTICA

PEDRO PAULO BALBI DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os termos apresentados a seguir dizem respeito a conceitos computacionais que, segundo acredito, serão fundamentais nos próximos anos, pela sua importância real e potencial. No entanto, eles não devem ser tomados nem como exaustivos nem como conclusivos, refletindo, antes de mais nada, uma visão, entre várias alternativas possivelmente satisfatórias.

. Interatividade
As maravilhas de que ouvimos falar sobre a Internet, já quase corriqueiramente nos vários meios atuais de comunicação, da novela das 20h aos suplementos e colunas semanais em jornais e revistas, são, de fato, resultado da interatividade que ela permite e de sua disponibilização em ampla escala.
Sem dúvida nenhuma, o evento da Internet e sua disponibilização em larga escala é o acontecimento que mais vai continuar marcando presença no dia-a-dia dos usuários de informática.
No entanto, a interatividade não se restringe à Internet. Programas televisivos em que os telespectadores em casa têm um papel ativo, por exemplo, na escolha da programação são uma realidade que tenderá a se sofisticar mais e mais graças às facilidades resultantes da interatividade. É ilustrativo pensar que, em futuro próximo, será possível ter uma combinação dos programas televisivos interativos atuais -"Intercine" e "Você Decide" (ambos da TV Globo)-, em que cada telespectador poderá selecionar de sua casa, não apenas o filme que queria assistir, mas, também, ao final que mais lhe convier (naturalmente, dentre uma lista predefinida de alguma maneira). Obviamente, essa possibilidade é apenas uma ilustração, já que sua viabilização depende de vários outros fatores.

. Conectividade
Um dos fatos mais fundamentais do ponto de vista do usuário de informática é a possibilidade de se intercambiar diversas formas de informação de maneira rápida, barata, segura e sem restrições de distância entre dois computadores, localizados em quaisquer pontos do planeta. Essa possibilidade de se trocar sejam meros textos já gravados, sejam filmes sonoros produzidos em tempo real, é uma realidades advinda da conectividade resultante de computadores estarem ligados uns aos outros em rede, sem restrições geográficas.
Além de todos os benefícios das trocas diretas de informação multimídia, há outras possibilidades. Um exemplo é a criação dos sistemas baseados em "agentes", isto é, unidades de um sistema de software que apresentam um certo grau de autonomia para realizar determinada ação. Veja-se, por exemplo, uma aplicação recente no contexto da Internet. Como a quantidade de informação disponibilizada no mundo cresce a uma taxa impressionante, começam a aparecer programas que visam a ajudar os usuários a coletar informações de um determinado tipo ou assunto. Assim, agentes são criados com o propósito de atuarem autonomamente na coleta das informações desejadas, liberando os usuários de terem, eles próprios, que fazer buscas longas e recorrentes por inúmeros computadores.
Outra consequência da conectividade é a criação de sistemas que permitam resolver um determinado problema de forma distribuída. Ou seja, programas localizados mesmo em diferentes computadores e incapazes de resolver o problema sozinhos, mas que, cooperativamente e com um certo grau de paralelismo, passam a ser capazes de resolvê-lo.

. Emergência
Entre os conceitos de informática apresentados, o de emergência é o menos aparente para o usuário, já que se refere a um elemento estrutural na arquitetura de sistemas de software. Sua idéia, no entanto, é simples e decorre da máxima: "O todo é maior do que a soma de suas partes". Isso quer dizer que um sistema, visto como um todo, tem propriedades -ditas emergentes, que não podem ser identificadas quando as suas partes são consideradas individualmente. Uma ilustração clássica diz respeito à água: afinal, como é que se pode obter algo "molhado" a partir de partes componentes (oxigênio e hidrogênio) que são gases?
Apesar de este conceito não ser uma novidade nas ciências naturais, seu uso em informática apenas agora está sendo devidamente explorado. Sua implicação computacional mais fundamental seria que, mais do que se tentar construir um sistema complexo diretamente, se possa construir um sistema de várias partes simples, de tal forma que, da interação entre elas, a complexidade possa emergir, algo assim como uma novidade não pré-programada explicitamente no sistema.
Como se pode supor, sistemas com esta característica ainda têm um longo caminho a percorrer; mas a direção é promissora. Um tipo de programa computacional que tem essa natureza são as redes neuronais artificiais, programas que, inspirados no cérebro humano, e até certo ponto imitando-o, apresentam uma incrível capacidade de aprendizagem, que resulta não dos neurônios artificiais individualmente, mas do conjunto das interações entre eles.
Um exemplo mais direto e ilustrativo da idéia de emergência e complexidade aparece nos jogos de computador, em que o jogador faz o papel de construtor, por exemplo, de uma cidade, como é o caso do SimCity. Este tipo de jogo já traz, programadas, várias regras que especificam interações entre os vários elementos da cidade que se cria. Assim, caso o usuário crie muitas indústrias a fim de gerar alta arrecadação de impostos para a cidade, as regras embutidas no programa podem ocasionar consequências como o aumento de poluição na cidade, além de conflitos trabalhistas envolvendo os trabalhadores dessas indústrias. Ou seja, a criação ou não de estradas, indústrias, hospitais etc., na cidade simulada, é uma atividade simples do usuário, como também o são as interações predefinidas no jogo entre os vários elementos criados; no entanto, a complexidade resultante é de difícil previsão por quem está jogando, cujo papel é exatamente controlá-la.

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