São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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CONCORRÊNCIA NA PESQUISA

Trava-se no meio acadêmico e também em alguns corredores palacianos um acirrado debate acerca das verbas públicas destinadas à pesquisa científica. Para alguns, os recursos devem ser direcionados apenas a centros de excelência; para outros, a todas as universidades públicas e até a algumas privadas sem fins lucrativos. Há mesmo quem afirme que esse tipo de dinheiro deve reverter exclusivamente para o ensino básico.
O fato é que hoje as verbas públicas para a pesquisa são tratadas, com as exceções de praxe, como fundos perdidos. Não há avaliação adequada do aproveitamento do dinheiro nem uma cobrança mínima de resultados. Os sistemas de avaliação têm falhas e pouco consideram fatores importantes como o número de profissionais que recebem para dedicar-se à pesquisa, mas não a realizam.
É óbvio que, tratando-se de pesquisa básica, cobrar resultados é tarefa extremamente complexa, senão impossível sem o risco de cometer injustiças. Mas um país pobre como o Brasil não se pode dar ao luxo de simplesmente enterrar verbas que em nada ou muito pouco reverterão numa melhoria para a sociedade. Vale aqui ressaltar que, mesmo nos EUA, a meca da iniciativa privada, ciência básica é majoritariamente financiada pelo governo federal.
A melhor e mais equânime solução parece ser imprimir alguma forma de concorrência entre os centros de pesquisa. De um lado, aqueles mais eficientes receberiam de acordo com a sua capacidade de produzir conhecimento; de outro, as instituições que se acomodaram a receber periodicamente o seu quinhão sem se preocupar com mais nada ver-se-iam impelidas a tomar uma atitude ou perder sua confortável "mesada".
É evidente que as verbas educacionais, num país que conta com tantos analfabetos, devem prioritariamente ser destinadas ao ensino básico, mas seria uma tolice proceder ao desmancho de uma estrutura já existente e que, em alguns casos, funciona.
É necessário, porém, instituir alguma forma de saudável concorrência num nicho já há muito acostumado a receber sem a obrigação de demonstrar uma contrapartida mínima.

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