São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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A nova Guerra Fria - 2

CLÓVIS ROSSI

Munique - Tentei na coluna de ontem esboçar o cenário em que se desenvolve uma nova Guerra Fria, desta vez entre os modelos (EUA, Japão e Europa continental) vencedores da contenda anterior, contra o comunismo.
O Brasil, por enquanto, nem entra nessa história, já que construiu um modelo que reúne o pior dos dois mundos. Em vez de ultraliberal como o norte-americano, é uma selva de regulamentos, leis, burocracia etc. Mas é um inóspito deserto em termos de proteção social, ao contrário da Europa.
A única vantagem dessa situação incômoda é a de permitir que se aprenda com o andamento da nova Guerra Fria entre os grandes, para tentar chegar a algo mais civilizado.
No ano passado, ao inaugurar uma conferência especial sobre emprego do G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo, o presidente francês Jacques Chirac defendeu o que chamou de "terceira via".
Ou seja, algo intermediário entre: 1) o absoluto liberalismo anglo-saxão, supostamente responsável por um desemprego que, nos EUA, está pouco acima de 5%, metade da média européia, mas acompanhado de crescente precarização das condições de trabalho e dos salários;
2) o modelo europeu, capaz de oferecer um colchão social macio, mas acusado de provocar um desemprego estrutural que não baixa de 10%/12% da força de trabalho.
Ao terminar a conferência, o então secretário norte-americano do Comércio, Ron Brown (que morreria no dia seguinte em desastre aéreo), fulminou: "Não há terceira via nem primeira via nem segunda. Há apenas a via correta" (obviamente a norte-americana).
Como o Brasil, a rigor, está no acostamento, tem a chance ou de escolher uma das duas vias existentes ou tentar a terceira, ainda desconhecida, sugerida por Chirac. Mas com o cuidado de não se deixar inebriar pelo triunfalismo que os norte-americanos hoje exalam. Pode ser passageiro.

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