São Paulo, domingo, 13 de abril de 1997
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A boa marcha dos sem-terra

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O próximo dia 17, quinta-feira, será marcado pelo único lampejo de oposição organizada que ainda resiste ao governo FHC.
É nesse dia que chega a Brasília a marcha dos cerca de 4.000 trabalhadores sem terra.
Vai haver passeata, discurso, palavras de ordem -tudo o que partidos de oposição e sindicatos dizem ser impossível sob a hegemonia tucana.
O valor desse tipo de manifestação é inestimável ao país. Se a população é hoje, em sua maioria, a favor da reforma agrária, isso é decorrência do esforço dos sem-terra em divulgar a sua causa. E não porque FHC nomeou um ministro para a área.
Ainda assim, há gente no governo que minimiza a marcha.
É o caso do ministro da Fazenda, Pedro Malan, que sexta-feira perdeu uma excelente oportunidade de ficar calado, seu esporte predileto.
Ao comentar a marcha dos sem-terra, Malan disse o seguinte: "Quanto mais rápido abandonarmos a expectativa das pessoas que crêem em marchas para Brasília como forma de solucionar esse problema (da reforma agrária), mais estaremos caminhando para solucioná-lo".
Para Malan, é importante cobrar mais dos Estados e municípios. E menos do governo federal. Mas sua fala não deixou de ser uma crítica à forma de manifestação, a marcha.
É curiosa essa crítica. Afinal, no ano passado, Malan e sua família marcharam pela principal avenida de Brasília, num domingo, durante uma manifestação pela paz no trânsito.
Talvez o ministro da Fazenda e o governo FHC só acreditem e apóiem marchas organizadas para protestar contra governos locais.
*
Enquanto os sem-terra chegam a Brasília, na mesma quinta-feira, no Rio, haverá a manifestação de outra parcela da sociedade.
Em jantar seguido de festa no Copacabana Palace para 500 convidados, todos a rigor, o deputado Roberto Campos vai comemorar seus 80 anos.
Coincidências da política.

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