São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 1997
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MST não cede e pede saída de Jungmann

DANIELA FALCÃO

DANIELA FALCÃO; LUCIO VAZ
ENVIADA ESPECIAL A LUZIÂNIA (GO)

Primeiro grupo da marcha chegou ontem ao DF; CUT promete greve de servidores na quinta-feira

Líderes da marcha dos sem-terra vão pedir ao presidente Fernando Henrique Cardoso -que aceitou recebê-los em audiência- a demissão do ministro de Política Fundiária, Raul Jungmann.
O primeiro grupo da marcha chegou ontem ao Distrito Federal -o chamado braço Centro-Oeste, que reúne 600 sem-terra de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Maranhão, Rondônia e Distrito Federal. Estes últimos começaram a caminhada em Rondonópolis (MT, a 1.200 km do DF).
A marcha chega nesta quinta-feira a Brasília. Os líderes dos sem-terra serão recebidos na sexta-feira pelo presidente, que antes havia imposto como condição para a audiência que o ministro Jungmann fosse preservado.
"O maior equívoco político de Jungmann foi ter rompido relações com o MST. Ele tentou nos isolar da sociedade, mas fracassou. O sucesso da marcha é prova disso", disse Francisco Dal Chiavon, da direção nacional do MST.
Cansaço e ansiedade
Os sem-terra que já chegaram ao Distrito Federal estão acampados no ginásio de esportes de Taguatinga, cidade-satélite a 25 km de Brasília, e só se encontrarão com os outros 1.200 andarilhos do braço Sul-Sudeste na manhã do dia 17.
Exaustos -depois de percorrer cerca de 1.200 km em 60 dias-, eles só pensam em chegar à Esplanada dos Ministérios para encerrar a caminhada e voltar para casa.
"Deixei meu marido e sete filhos no acampamento Giacometti-Marondi, em Rio Bonito do Iguaçu (PR), há dois meses", disse Rosa dos Santos, 35, uma das seis mulheres que fazem parte dos 49 sem-terra que vieram da região.
Quem ficou cuidando das crianças foi a filha mais velha de Rose, de 12 anos, e o marido. "Vim no lugar do meu marido porque ele estava doente, mas estou com saudades e preocupada", afirmou.
Entre as mulheres paranaenses há uma que descobriu estar grávida durante a marcha. Noeli de Moura, 19, calcula estar no terceiro mês de gestação. Ela caminha o tempo todo ao lado do marido, também de 19 anos.
Os participantes da marcha perderam em média seis quilos cada e gastaram quatro pares de sandálias. Quase todos tinham os pés inchados e marcados por calos.
A adolescente Viviane Aparecida, 15, decidiu caminhar descalça porque não aguentava mais a dor causada pelas tiras de borracha das sandálias.
Os 1.200 sem-terra do braço Sul-Sudeste chegam ao Distrito Federal hoje à tarde e serão recebidos pelo governador Cristovam Buarque (PT).
Superquinta
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) pretende reunir cerca de 30 mil servidores públicos em Brasília na quinta-feira -dia da chegada da marcha- para marcar o Dia Nacional de Paralisação do servidor público contra a reforma administrativa.
Na terça-feira, a CUT vai reunir cerca de 2.000 trabalhadores no gramado em frente ao Congresso. Um grupo de mil trabalhadores vai formar a palavra "emprego" portando tochas acesas.
Zunga garante que, na quinta-feira, os sem-terra portarão foices na passeata pela Esplanada dos Ministérios. "É sem invasão, mas com foice. Se o FHC e o Jungmann têm medo de foice, que parem de comer arroz. A foice é um instrumento de trabalho, usado na colheita do arroz", acrescentou.

Colaborou Lucio Vaz, da Sucursal de Brasília

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