São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Oposição faz de ato palanque eleitoral

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Líderes dos partidos de oposição ao governo FHC tomaram conta do palanque armado pelos sem-terra para reivindicar agilização da reforma agrária e o transformaram em um palco para os candidatos à sucessão presidencial no próximo ano.
O líder petista Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou para responder às críticas de Fernando Henrique Cardoso à oposição.
Ele leu um texto de cinco páginas que foi elaborado para FHC. Nesse discurso, Lula fez referência aos adjetivos dados pelo presidente da República aos partidos que fazem oposição ao governo -ele citou "burro" e "neobobo".
"A Constituição que Ulysses Guimarães promulgou e jurou como Constituição cidadã -e que o sr. mesmo assinou- em nenhum de seus artigos confere ao chefe do Executivo poderes para insultar a oposição e os movimentos sociais", disse.
O petista afirmou também que o controle da inflação não é salvo-conduto para todas as "negociatas" que ocorreriam no governo.
Quando Lula foi chamado para discursar, a platéia levantou as bandeiras e repetiu gritos de guerra da campanha presidencial de 94. Ele foi o mais festejado entre todos os que discursaram ontem à tarde.
Lula elogiou a disposição dos sem-terra de organizar uma marcha de mais de 1.000 km. Segundo ele, o exemplo precisa ser seguido pelos movimentos sindicais. "O que vocês fizeram hoje foi uma lição de vida a todos nós que fraquejamos diante das diversidades."
Brizola
Logo à chegada da marcha na Esplanada dos Ministérios, o ex-governador do Rio Leonel Brizola (PDT) e Lula monopolizavam as pregações contra o governo FHC.
Brizola, apesar da insistência dos organizadores da manifestação para que subisse no carro de som, preferiu caminhar pelas barracas montadas pelos sem-terra, distribuindo autógrafos e tirando fotos.
A empolgação era tanta que o pedetista chegou a assinar seu nome sobre a estrela branca da bandeira do Partido dos Trabalhadores.
Brizola não se contentou com os cumprimentos e autógrafos. Chegou a defender a destituição de Fernando Henrique Cardoso. Afirmou que a população deveria fazer um plebiscito para decidir se FHC ficaria ou não no poder.
"Temos de proceder como o povo do Equador. Se depender de mim, nós estamos destituindo o governo", disse Brizola, referindo-se ao impeachment sofrido pelo ex-presidente do Equador Abdalá Bucaram.
O presidente do PT, José Dirceu, atacou FHC. "O discurso de que o governo não tem dinheiro é conversa. Falta vontade do presidente (para fazer a reforma agrária)."
Foi José Rainha Jr., um dos líderes do MST, quem fez a defesa mais contundente da eleição de Lula no próximo ano. Ele comparou a marcha de ontem aos movimentos de 78 -greves no ABC- ("que derrubou o governo militar") e 92 ("que expulsou Collor").
Rainha disse que a marcha é um prenúncio da derrota de FHC nas eleições de 98 e que estava sentindo o mesmo clima favorável da campanha presidencial de 89. "Só que dessa vez vamos ganhar."
Ao final da tarde, diante do Congresso Nacional, o ato pela reforma agrária se transformou em manifestação contra o governo.
Os principais líderes da oposição protestaram contra a política econômica, o programa de privatização, as reformas administrativa e da Previdência.
O ato foi prejudicado pela forte chuva que atingiu Brasília, dispersando parte das cerca de 30 mil pessoas, segundo a polícia, que acompanhavam a marcha do MST.
Vicentinho protestou contra o "abandono" dos servidores públicos, o contrato temporário de trabalho e a reforma da Previdência.
Empolgado com o ato público, Vicentinho convocou os trabalhadores e sem-terra a participarem da manifestação do Dia do Trabalhador, no dia 1º de maio.

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