São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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MST lidera maior protesto contra FHC

DANIELA FALCÃO
AUGUSTO GAZIR

DANIELA FALCÃO; AUGUSTO GAZIR; IGOR GIELOW; RENATA GRINALDI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Marcha reúne 30 mil e congestiona Brasília; líder dos sem-terra chama ministro Jungmann de 'canalha'

Críticas duras contra o governo federal e, principalmente, ao ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) deram o tom da chegada da Marcha pela Reforma Agrária, Emprego e Justiça a Brasília.
Cerca de 30 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, se concentraram na Esplanada dos Ministérios, na chegada da marcha. Do total, só 2.000 eram sem-terra, de acordo com o MST. Foi o maior protesto, em Brasília, contra o governo Fernando Henrique Cardoso.
A crítica mais agressiva partiu de José Rainha Jr., um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Ele chamou Jungmann de "canalha" e pediu sua demissão várias vezes ao longo do percurso de cerca de 15 km.
"Quando a gente passar por aquele ministério, vamos dizer: 'Olha nós aqui, Raul Jungmann, canalha. Você disse que a gente não chegaria nem até a metade do caminho, não acreditou na marcha. Então, agora, pode pedir demissão que a gente vai continuar fazendo ocupação"', disse Rainha.
Jungmann também foi atacado por outros líderes do MST e pelo teólogo Leonardo Boff, que chamou o ministro de medíocre, preguiçoso e contraditório. "O lugar dele é no anonimato. Ele não está à altura dos desafios da reforma agrária", disse Boff.
Os discursos dos líderes em cima dos caminhões de som eram repetidos pelas pessoas que aderiram à marcha, que criaram vários slogans criticando ou pedindo a renúncia de FHC.
Políticos, estudantes, professores, metalúrgicos, aposentados, religiosos, sem-teto, artistas e desempregados se agregaram às marchas do MST, nos 10 km finais até a Esplanada dos Ministérios.
A polícia fechou as seis pistas do Eixão Sul, uma das principais vias de Brasília, por onde chegaram os sem-terra. As duas avenidas da Esplanada também foram fechadas. O centro da cidade quase parou, devido aos engarrafamentos.
Havia poucas pessoas carregando foices, facões e enxadas. A maioria mulheres e velhos.
As três frentes dos sem-terra se encontraram pela manhã na entrada sul de Brasília. Lá, Plínio de Arruda Sampaio, ex-deputado do PT, e Maria Prestes, viúva de Luiz Carlos Prestes, descerraram uma placa comemorativa ao encontro.
"Essa (marcha dos sem-terra) é a semente que brotou da Coluna Prestes", disse Maria Prestes, em referência à marcha comunista que o marido realizou nos anos 20.
Os manifestantes cantaram o hino do MST e se confraternizaram sob uma grande bandeira vermelha do movimento.
A marcha entrou em Brasília aplaudida pelas pessoas que a esperavam na via de acesso à cidade e saudada por buzinas de carro.
Funcionários do Banco Central e do Banco do Brasil jogaram papel picado dos prédios para homenagear os sem-terra.
Luiz Beltrami de Castro, 89, o mais velho participante da marcha, recebeu flores da cantora Lecy Brandão e do ex-governador Leonel Brizola (PDT).
À tarde, uma chuva forte dispersou os manifestantes, que protestavam em frente ao Palácio do Planalto, e atrasou a programação do MST. O ato ecumênico começou por volta das 16h30. O comício com a participação de lideranças políticas, marcado para a mesma hora, só começou às 18h.

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