São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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As EPCs, mais perto da realidade

LUÍS NASSIF

Criadas há poucos anos, as Empresas de Participação Comunitária (EPCs) tornaram-se a nova coqueluche dos municípios brasileiros. Grupos de cidadãos, associações privadas e poderes públicos se reúnem para juntar suas poupanças e investir em projetos úteis para a comunidade.
Política e economicamente, pode ser o embrião da grande revolução pela implantação do capitalismo social no Brasil, algo que vem sendo tentado desde as experiências pioneiras da Deltec e do Ibec, do grupo Rockefeller, primeiros fundos de investimentos, constituídos no início dos anos 50.
Muita expectativa
As EPCs permitem a reconstrução de um modelo moderno de capitalismo pela base, juntando a poupança municipal para fortalecer empresas locais, ao alcance dos olhos.
Mas, no momento, elas padecem de excesso de expectativas que geraram e da falta de um modelo adequado de operação.
Falta ainda aos cotistas a mentalidade de investidor. Ou seja, do sujeito que sabe escolher empresas e que pauta sua atuação pela busca de rentabilidade. Em muitas cidades, o dinheiro foi recolhido e repousa em bancos, enquanto não aparecem projetos, e porque não se quer aplicar em empresas já instaladas.
Em algumas áreas, há tendência à politização do processo, com grupos políticos querendo impor seus administradores. Em outras, investidores buscam benefícios paralelos -o poder de empregar alguém na empresa. Em quase todas, há falta de informação técnica para análise de projetos.
Lucro por objetivo
O primeiro passo para consolidar uma EPC é ter claro que seu objetivo é o lucro, o bom retorno do investimento aplicado. Ela tem que ser muito mais participação do que comunitária.
Não existe nada que contribua mais para o desenvolvimento do que uma mentalidade investidora madura. Um investimento bem feito, com bom retorno, vai consolidar empresas, permitir o reinvestimento do lucro em outros empreendimentos e atrair novos investidores para os projetos.
Para tanto, há que se desenvolver a tecnologia de análise de projetos, aplicada por fundos de investimento de qualquer parte. O empreendedor tem que saber montar seu plano de negócios, e o investidor, analisá-lo. E, depois, o acionista minoritário precisa fiscalizar e cobrar do empreendedor os resultados prometidos.
Não é trabalho para amadores. No Rio Grande do Sul e no Paraná, os Sebraes estaduais têm trabalhado em duas direções.
No caso de investimentos de mercado, EPCs estão sendo aconselhadas a constituírem fundos de investimento, contratando consultores externos ou instituições para sua administração.
É a melhor forma. O administrador analisa projetos, sugere investimentos e representa os cotistas nas assembléias das empresas. E os cotistas fiscalizam os administradores, por meio do resultado final de seus fundos -muito mais fácil de conferir do que análises de projetos de balanços.
Função social
No caso de EPCs com função social -dentro do modelo que está sendo implementado pelo governo gaúcho-, o Estado pode entrar amparando com contrapartidas de recursos, desde que investidores locais topem participar da empresa. É uma boa maneira de conferir eficácia aos recursos públicos, e controle, já que a fiscalização será exercida pelos sócios locais dos projetos.

Email: lnassif@uol.com.br

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