São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997 |
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A América descobre seu Bravo Mexicano ganha mostra MATINAS SUZUKI JR.
Está vivo, com 95 anos, no México, um dos mais importantes fotógrafos do século. Manuel Álvarez Bravo é hoje reconhecido internacionalmente como um dos primeiros a se beneficiar da revolução das câmeras de 35 mm (embora ele usasse mais uma Graflex), que permitiram à fotografia flagrar com liberdade a fugacidade dos acontecimentos. "Credita-se mais frequentemente a Andre Kertz e Henri Cartier-Bresson, que trabalharam na França, o aperfeiçoamento da novidade. Manuel Álvarez Bravo, cujo trabalho colocou a fotografia mexicana nos livros de história, também merece esse crédito; ele adotou o estilo por meio de um caminho singular, no México, longe dos centros artísticos do anos 30", escreveu Vicki Goldberg, no "The New York Times". Assim como o Brasil está descobrindo Sebastião Salgado, os EUA aprendem a conhecer o fotógrafo que dedicou seu olho e suas lentes ao país abaixo do Rio Grande. O MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova York) mostra até o dia 18 maio a maior retrospectiva já realizada sobre a obra de Álvarez Bravo, cobrindo 70 anos de trabalho (175 fotos, sendo 80 do próprio arquivo do autor, algumas não vistas desde os anos 30). Até o dia 3, a galeria Witkin, no Soho, hospeda a mostra "Manuel Álvarez Bravo: 95 Imagens para 95 anos", e o Instituto Cultural Mexicano, até o dia 8, apresenta "Cinco Décadas da Fotografia Mexicana", com trabalhos de Álvarez Bravo e dos fotógrafos mexicanos que ele influenciou. Ele tem um recorte peculiar: praticamente só fotografou o seu país, as pessoas de seu país (ou pessoas que estavam no seu país), a paisagem do seu país. Trata-se, talvez, do mais longo percurso de procura de identidade -a pátria como uma espécie de obsessão focada e a revelar-se- de que se tem notícia. Eldorado Cultural Álvarez Bravo é contemporâneo dos importantes nomes da pintura mexicana, como Rivera, Siqueiros e Frida Khalo (ela mesma filha de um fotógrafo). Conviveu ou conheceu de perto a obra da maioria dos grandes artistas do século que enxergaram no México uma espécie de Eldorado cultural e artístico (os surrealistas, que influenciaram parte de sua obra), além de fotógrafos como Tina Modotti, Edward Weston e Cartier-Bresson. Como já se disse, suas fotos são silenciosas. Elas registram uma solaridade, uma claridade que contrasta a infinita imensidão com a solidão de seus personagens. Há nele um jogo de esconde-esconde com claro-escuro que o expressionismo perseguiu nos estúdios de cinema, mas que Eisenstein (diz a lenda que Álvarez Bravo foi o fotógrafo de "Que Viva México", mas não foi), Buñuel (ele fez o still de "Nazarin") e Orson Welles procuraram, a céu aberto, na terra de Manuel Álvarez Bravo. Salgado, no Brasil, e Álvarez Bravo, no México, são demonstrações contemporaneamente contundentes da força social da composição fotográfica. Ela muda um país. Texto Anterior: Descharnes prepara a volta de Dalí Próximo Texto: Cara ao tempo Índice |
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