São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 1997
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Agente é predador, diz Newell

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O inglês Mike Newell, 55, é apontado como o primeiro cineasta de uma nova geração de britânicos a despontar na década de 90, dirigindo a comédia romântica "Quatro Casamentos e Um Funeral".
Agora, faz sua estréia nas produções de Hollywood com uma história totalmente norte-americana, tendo a máfia como cenário e Al Pacino e Johnny Depp no elenco.
"Só posso fazer um filme da maneira que sei, não importa se na Inglaterra ou nos Estados Unidos. Então, tenho que escolher cuidadosamente o tipo de história. Acho que minha influência européia, que é centrar a história mais nas relações pessoais do que na ação, deve estar presente. Por isso, procuro roteiros que se encaixem", afirmou à Folha, por telefone, de um hotel em Los Angeles.
No caso de "Donnie Brasco", Newell diz que a experiência foi perfeita. "A coisa mais importante no filme é que se trata de uma história universal. O roteiro me surpreendeu, pois é sobretudo muito humano. Agrada-me o fato de essa história ocorrer dentro da máfia, pois isso me dá uma excelente moldura, mas esse não é o ponto central", disse.
O filme de Newell é baseado em fatos reais. Mostra a história de um detetive americano que se infiltra na máfia por seis anos. "Donnie Brasco" traz ainda uma detalhada descrição da máfia nos EUA.
"O roteirista, de quem eu já conhecia o trabalho, transformou os fatos num drama muito satisfatório, que não precisava necessariamente ter ligação imediata com a realidade. É como perguntar a um escritor se sua obra é autobiográfica. No fundo, sempre há elementos desse tipo, mas isso não é o essencial", afirmou o diretor.
Para Newell, Donnie Brasco -o personagem interpretado por Johnny Depp- é um predador. "Brasco é um homem duro, muito frio e manipulador. De repente, descobre, para seu horror, que criou um relacionamento com esse homem, que ele vê como um pai. É um conflito muito terrível para ele."
Depp era a primeira opção do diretor para o papel, por razões bastante específicas. "O relacionamento dos dois protagonistas tem um forte componente cômico na primeira parte. É um filme que começa cômico e termina trágico. E eu precisava de alguém que pudesse dominar as duas áreas. Gosto muito do trabalho de Depp. Além disso, queria alguém que tivesse, nas raízes, violência. Depp nunca fez papéis assim no cinema, mas, na vida real, teve uma experiência desse tipo", explicou Newell.
Já Al Pacino estava no projeto antes de o inglês ser escolhido como diretor. O ator, um dos principais astros de Hollywood, teria adiado a realização do filme até estar na idade ideal para interpretar o mafioso que vira amigo do policial infiltrado, segundo o diretor.
Newell diz que pretende agora rodar mais um filme nos Estados Unidos, mas se mostra bastante entusiasmado com a atual produção britânica.
"O que os britânicos estão fazendo é procurar platéias. Não há cinema sem platéia. Mas nós também não damos o que o público quer, como acontece nos Estados Unidos. Os britânicos abordam temas que nunca estão na produção dos EUA. Nós fazemos o que achamos que o público pode gostar, mostramos a ele e perguntamos: o que vocês acham?", afirmou.

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