São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Braçal morre mais jovem que executivo

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ser um trabalhador com poucas qualificações em São Paulo é perigoso. Não só por causa do salário baixo, mas também porque é grande o risco de morte precoce, causada, em geral, por homicídio.
Uma pesquisa inédita feita pelo Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade (Pro-Aim) da prefeitura paulistana revela que 32% dos trabalhadores braçais mortos em 1995 morreram antes de completar 25 anos.
Na outra ponta da linha vital estão os diretores e gerentes de empresas e os funcionários públicos. Esse grupo é o que tem a menor incidência de mortalidade precoce: 32% deles morrem após os 55 anos e só 1%, antes dos 25 anos.
Segundo dados do Ministério do Trabalho, os trabalhadores braçais têm renda mensal de cerca de R$ 320,00. Sem qualificação, são ajudantes gerais na construção civil e na indústria, por exemplo.
Já os executivos e funcionários dos Três Poderes, que formam o segundo grupo, têm uma média salarial de R$ 2.000,00.
Essas, entretanto, não são as únicas diferenças entre os dois grupos. Enquanto a principal causa da morte dos não-qualificados é o homicídio, os executivos e servidores públicos são vítimas de infarto.
"O desgaste do trabalho é maior para os grupos mais excluídos. Eles têm menos acesso a serviços de saúde e têm ocupações mais extenuantes", explica a socióloga Marina de Freitas, uma das pesquisadoras do Pro-Aim.
Além disso, os homicídios que vitimam esses excluídos sociais geralmente interrompem a vida durante a juventude -diminuindo a média de idade dos mortos.
Os assassinatos -como já revelou uma pesquisa anterior do Pro-Aim- são muito mais frequentes nas áreas periféricas da cidade, onde moram os trabalhadores menos qualificados.
Não por acaso, essa é a principal causa de morte de quatro dos sete grupos ocupacionais masculinos que foram pesquisados: trabalhadores no comércio, em serviços pessoais, na indústria e transportes, além dos braçais.
"Os excluídos sociais morrem mais cedo do que os incluídos, em São Paulo", sintetiza o médico Marcos Drumond, do Pro-Aim. Isso se revela nas ocupações, diz ele, porque elas têm relação com a integração social do indivíduo.
Um grupo mais próximo da "inclusão" social como o dos ocupados em profissões técnicas e científicas (professores, profissionais liberais etc.) corre menos risco de morrer jovem do que o dos trabalhadores no comércio, por exemplo.
No primeiro grupo, a maioria (53%) morre após os 45 anos. Já no dos comerciários, vendedores e comerciantes ocorre o oposto: a maior parte (52%) das mortes durante a chamada idade ativa (até 65 anos) acontece antes dos 45 anos.
Principal causa de morte dos homens ocupados entre 15 e 64 anos (o universo pesquisado), o homicídio atinge mais os homens do que as mulheres.
Por isso, é maior a mortalidade precoce masculina na cidade: 35% dos ocupados paulistanos mortos durante a idade ativa morrem antes de completar 35 anos. Entre as mulheres trabalhadoras, esse percentual cai para 27%.
A maioria absoluta (51%) das mortes femininas ocorre após os 45 anos. No caso masculino essa taxa não passa de 43%.
Embora não sejam tão vitimadas por assassinatos quanto os homens, as mulheres também morrem por "causas evitáveis, até banais", diz o médico Drumond.
Ele cita a grande incidência de derrames cerebrais causados por hipertensão arterial. Boa parte dos óbitos, diz, seria evitável com o simples controle da pressão.

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