São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997 |
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Aids é principal causa de morte de mulheres que trabalham
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
No lado masculino, as complicações decorrentes da contaminação pelo HIV são o motivo que mais tem provocado baixas em um dos segmentos mais qualificados da mão-de-obra da cidade de São Paulo. Segundo estudo do Pro-Aim, morreram mais profissionais com ocupações de nível superior, artísticas e técnicas em função da Aids do que de qualquer outra causa isolada, em 1995. Esse é um grupo que, além da escolaridade acima da média da força de trabalho, tem rendimentos mensais superiores a R$ 1.000,00 -segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho. O mesmo fenômeno ocorreu com o grupo dos funcionários em serviços administrativos. São contínuos, auxiliares de escritório, contadores que, na média, não foram além do 2º grau e recebem menos de R$ 500,00 por mês. O médico Marcos Drumond, do Pro-Aim, tem uma hipótese para tentar explicar a semelhança na causa mortis de dois grupos sociais aparentemente tão distintos. "Há um contato permanente das pessoas desses dois grupos no local de trabalho, no escritório", nota. Essa proximidade seria o vetor para a transmissão de hábitos e até do vírus HIV. A teoria de Drumond se encaixa com os dados de outro estudo, do Centro de Referência e Treinamento em Aids, do governo paulista. O sociólogo Alexandre Grangeiro, pesquisador do Instituto de Saúde da secretaria estadual, explica que esses dois grupos ocupacionais foram os únicos em que a transmissão do vírus se deu principalmente pelo contato homossexual e bissexual. O estudo revelou ainda uma segunda coincidência: esses profissionais têm residência principalmente na região central da cidade, de onde a epidemia se irradiou em direção à periferia. Atualmente, é nos bairros periféricos que a transmissão do vírus da Aids ocorre mais intensamente e por causa do uso de drogas intravenosas e contato heterossexual. A Aids já é a segunda causa de morte dos ocupados no comércio, dos prestadores de serviço e dos trabalhadores braçais. Entre as mulheres, já é a causa principal entre trabalhadoras do comércio e em serviços administrativos. As mortes identificadas pelo Pro-Aim em 1995 ainda refletem o padrão da primeira fase da epidemia, quando o contágio era pelo contato homossexual. O fato de os novos infectados estarem na periferia projeta um cenário preocupante no médio prazo. "É necessária uma política urgente de saúde pública. Quanto mais excluída é a pessoa, maior o risco de ela se infectar e menor a sua sobrevida", alerta Grangeiro. A Aids aparece como segunda causa de morte de executivos e altos funcionários públicos. Porém, o maior fantasma para a saúde desses homens é o infarto. As doenças coronarianas, ligadas ao estresse do trabalho e à dieta rica em colesterol, são a principal causa de morte desse grupo ocupacional. Texto Anterior: Braçal morre mais jovem que executivo Próximo Texto: Câncer de mama mata mais mulheres com nível superior Índice |
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