São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Déficit exige freio para evitar colapso, diz economista inglês

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

A vulnerabilidade do Brasil na área externa (crescentes déficits comercial e em contas correntes) forçará o presidente Fernando Henrique Cardoso a frear a economia a curto prazo para evitar o risco de um "efeito caipirinha" no ano eleitoral de 1998.
É o que diz o economista inglês Neil Dougall, do banco de investimentos Kleinwort Benson, de Londres, pertencente ao grupo financeiro alemão Dresdner.
A avaliação faz parte de uma análise sobre a economia brasileira, que circulou entre investidores institucionais europeus em visita ao país para examinar oportunidades de investimento.
O "efeito caipirinha" seria uma repetição, no Brasil, do "efeito Tequila", ocorrido no México, em dezembro de 1994, quando a retirada do país de recursos externos causou uma crise de balanço de pagamentos e a desvalorização do peso em mais de 50%.
"O uso de medidas para frear o consumo é a única opção do governo para evitar a contínua deterioração do déficit comercial, porque as iniciativas para incentivar as exportações, tais como isenção do ICMS e financiamentos baratos, e dificultar as importações, tais como a redução de prazos de financiamentos, só darão resultados a médio prazo", afirma.
Ele aposta na adoção pela equipe econômica de medidas de restrições aos prazos de crediários como uma maneira rápida e efetiva de esfriar o consumo, reduzindo a demanda de importações.
Dougall baseia sua aposta em dados que mostram que o prazo médio dos financiamentos de bens de consumo mais do que dobrou nos últimos 12 meses.
Dougall descarta a sobrevalorização do real em relação ao dólar e o "custo Brasil" como explicações para o crescimento do déficit.
"O câmbio, a meu ver, está com uma sobrevalorização de apenas 5% e as deficiências na infra-estrutura e o baixo nível de educação não são coisas novas no Brasil."
A explicação, diz Dougall, está no aumento da elasticidade das importações causada pela abertura econômica, ou seja, para um determinado nível do PIB (Produto Interno Bruto), o país está absorvendo um nível maior de importações. "Isso não significa dificuldades insuperáveis, desde que a abertura da economia melhore a produtividade e gere uma resposta firme das exportações."
Mas, diz Dougall, o freio agora talvez seja necessário porque o impacto, por meio do aumento da produtividade devido a uma maior exposição à competição externa, leva tempo para dar frutos.

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