São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Personagem revela que é lésbica em horário nobre

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

No próximo dia 30, milhões de norte-americanos vão ver, em horário nobre na rede ABC, um dos personagens mais populares da televisão revelar que é lésbica.
Após meses de controvérsia sobre a preferência sexual de Ellen Morgan, os produtores da série "Ellen" resolveram fazê-la assumir a homossexualidade.
A atriz que faz o papel, Ellen DeGeneres, também está divulgando em entrevistas a jornais, rádios e TVs que é lésbica.
A reação à notícia tem sido extraordinária. Três dos principais patrocinadores do programa (as lojas de departamentos J. C. Penney, a rede de lanchonetes Wendy's e a fábrica de automóveis Chrysler) suspenderam seus anúncios. Religiosos conservadores pedem a seus fiéis que boicotem os produtos das empresas que continuarem a patrocinar a série.
A ABC, que pertence à Disney, recusou anúncios de uma agência de turismo especializada em organizar cruzeiros para homossexuais e de entidades homossexuais que desejavam aproveitar a antecipada grande audiência do programa para promover sua causa. O assunto virou capa da "Time".
Ellen DeGeneres (que o reverendo Jerry Falwell está chamando de Ellen DeGenerada), 39, virou heroína do movimento lésbico. Ela ficou famosa em 1987, quando apareceu no especial "Women of the Night" da rede de TV por cabo HBO e roubou a cena com seus diálogos telefônicos com Deus.
Ellen nasceu em Nova Orleans, onde começou a trabalhar como humorista em bares. Em 1984, mudou-se para San Francisco e passou a aparecer em programas nacionais de TV. A série com seu nome ficou na lista dos dez programas de maior audiência do país durante quatro anos, mas desde 1995 caiu para o trigésimo lugar. Até agora, só fez um filme de cinema, "Mr. Wrong", que fracassou.
Ellen não é o primeiro personagem homossexual da TV nos EUA. Em 1989, na série "Thyrtysomething", a mesma rede ABC chegou a mostrar dois homens semidespidos conversando na cama e perdeu cerca de US$ 1 milhão em patrocínios. Segundo a revista "Advocate", as séries em exibição atualmente têm 22 gays.
Mas nenhum deles é o líder de um programa, em torno de quem gira toda a ação. Nem qualquer dos artistas que interpretam seus papéis têm uma fração da popularidade de DeGeneres. No episódio do dia 30, diversos grandes astros terão participações especiais. Entre eles, Demi Moore, Mellisa Etheridge, Oprah Winfrey, Billy Bob Thornton e k. d. lang.
A ABC e a Disney dizem terem exigido dos produtores apenas duas coisas para colocar o espetáculo no ar: bom gosto e qualidade.
Mas há quem diga que o chefão da Disney, Michael Eisner, também ordenou que a assumida de Ellen ocorresse agora, após a assembléia anual dos acionistas da empresa (para poupá-lo de ataques) e a um mês do final da temporada (para que a ABC possa avaliar a resposta do público e decidir se mantém a série no ar a partir de setembro). Enquanto isso, os EUA aproveitam o mote para discutir o que acham do lesbianismo.

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