São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Apenas 2,8% falam português

JAIME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL

O brasileiro que, proveniente de Pequim, desembarca no aeroporto de Macau, tem a sensação inicial de volta à casa. Os cartazes trazem orientações em português, além de chinês e inglês.
A experiência de retorno ao universo da língua portuguesa, no entanto, não resiste muito tempo. O funcionário do serviço de imigração examina o passaporte e não reage à saudação em português. De origem chinesa, ele não domina a "língua colonial".
O taxista não entende o nome do hotel em português. A tentativa em inglês também fracassa. É preciso mostrar o endereço escrito em ideogramas chineses.
Apenas 2,8% dos habitantes de Macau falam português. Escreveu Jorge Rangel, secretário do governo de Macau: "O português é apenas a terceira língua, privilegiando-se o seu uso nas relações burocrático-administrativas".
A administração Rocha Vieira se esforça para garantir espaço para a língua portuguesa depois da devolução, em 1999. Apóia, por exemplo, a Universidade de Macau, que oferece cursos de língua e literatura portuguesas.
Embora os acordos com Pequim garantam a manutenção do português como língua oficial, ao lado do chinês, até 2049, as perspectivas para a expansão do uso do idioma não são ainda muito animadoras.
O caso do empresário Edmund Ho é emblemático. Apontado como a mais provável indicação para o cargo de primeiro governador de Macau depois da devolução, ele fala cantonês (dialeto local), mandarim (a versão do chinês da região de Pequim e língua oficial da China) e inglês. Não domina a língua portuguesa.
A herança portuguesa, no entanto, sobrevive em áreas mais visíveis, como a arquitetura. Entre as principais atrações turísticas estão a igreja de São Domingos e as muralhas da Fortaleza do Monte, que passam por obras de recuperação.
O governo de Macau planeja investir neste ano mais de US$ 2 milhões em obras para recuperação do patrimônio arquitetônico do território.
A influência portuguesa ainda se destaca na cozinha local, num resultado de misturas com a culinária chinesa. Os consumidores de notícias em português podem recorrer a três diários, três semanários, uma emissora de rádio e um canal local de TV.
(JS)

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