São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997
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Reforma ou revolução

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Justas desconfianças à parte, de lado a lado, não parece desprezível o saldo do encontro de sexta-feira entre o presidente Fernando Henrique Cardoso e os líderes do MST, com representantes de outros grupos como uma espécie de testemunhas.
A reunião em si já é um dado positivo. Ainda mais depois que FHC chamara o MST de "primitivo" e este retrucara desqualificando toda a política oficial. E ainda convém acrescentar o fato de que um dos interlocutores foi Antônio Carlos Spis (Federação Única dos Petroleiros), outro líder sindical que o governo criminalizou não faz tanto tempo assim.
Além desse aspecto mais simbólico, há o fato de que tanto o presidente como o MST abriram o jogo com total franqueza. Pelo que a Folha apurou, cada lado falou tudo o que tinha que falar, sem reservas, sem diplomacia.
Da reforma agrária ao Proer, não parece ter sido deixado à margem tema algum da conjuntura.
"Um grande exercício de democracia", resume Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT, que só os fundamentalistas poderão classificar de leniente com o governo.
Não quer dizer que está tudo resolvido nem que se tenha iniciado um processo de solução para a questão da terra e a consequente pacificação do campo.
De todo modo, a iniciativa, agora, volta para o campo do MST. O presidente propôs a criação de uma comissão, com a participação do movimento, destinada a elaborar "projetos concretos".
Na véspera do encontro, um dos líderes do MST, Gilmar Mauro, havia dito que era fácil acabar com o MST; bastava fazer a reforma agrária. Agora, ao MST foi oferecida a chance de "ensinar o presidente a fazer reforma agrária", como disse João Pedro Stédile, considerado o ideólogo do movimento. Ou seja, apresentar propostas concretas.
É pegar ou partir para um projeto revolucionário fora de tempo.

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