São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 1997
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Índio é queimado por estudantes no DF

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, 44, teve 95% do corpo queimado depois de ter sido incendiado anteontem em Brasília.
Um grupo de cinco rapazes, todos da classe média de Brasília jogou sobre ele uma substância líquida, provavelmente álcool. Os jovens teriam, então, ateado fogo. Os cinco estão presos e confessaram o crime em depoimento à polícia.
Segundo os médicos, Santos não tem chance de sobreviver.
O crime aconteceu em um ponto de ônibus, às 5h da manhã, quando Santos dormia em um banco, depois de voltar de uma comemoração do Dia do Índio, na sede da Funai.
Os cinco teriam ateado fogo em Santos "por divertimento", segundo o delegado Valmir Alves de Carvalho, da 1ª DP (Delegacia de Polícia). Eles foram presos e teriam confessado o crime.
"É um quadro clínico sem possibilidade de retorno", disse a médica Maria Célia Martins Bispo, do Hospital Regional da Asa Norte, onde Santos foi socorrido. Até as 22h de ontem, Santos sobrevivia.
Ele chegou ao hospital consciente, mas foi sedado porque sentia dores intensas. De manhã, teve insuficiência renal e respiratória.
Santos teve 85% do corpo atingido por queimaduras de terceiro grau e outros 10%, por queimaduras de segundo grau.
Ele foi socorrido por seis pessoas, entre elas o advogado Evandro Castelo Branco Pertence, 27, filho do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Sepúlveda Pertence.
"Eu vi chama enorme e um vulto, em pé, no centro dela. Imaginei que fosse um boneco, mas ele mexia os braços", disse o comerciante José Maria Gomes, 35.
Outra testemunha, o estudante Nairo Euclides Santos Magalhães, 19, anotou a placa do carro, um Monza preto placa JDQ-5807.
O registro da placa permitiu que a polícia localizasse um dos acusados -Max Rogério Alves, 19-, que dirigia o carro da mãe, Maria da Conceição Alves.
A delegada Rosângela Celle Silveira, da 1ª DP, disse que Max Rogério Alves confessou o crime e entregou os outros. Segundo ela, todos confessaram.
Um deles é Antônio Novély de Vilanova, 19, filho do juiz da 7ª Vara Federal do Distrito Federal, Novély Vilanova da Silva Reis, conhecido por decisões recentes. Em novembro de 96, emitiu liminar impedindo que informações confidenciais da Vale do Rio Doce fossem abertas para interessados na compra da estatal.
Os outros acusados são Tomás Oliveira de Almeida, 18, G.N.A., 16, e Eron Chaves de Oliveira, 19. "Não tínhamos intenção de matar", disse Almeida. G.N.A. está detido na Delegacia do Menor.
Segundo o delegado Valmir Alves de Carvalho, os cinco disseram ter jogado álcool em Santos.
Carvalho acredita em premeditação. A polícia apreendeu vasilhames de álcool e recolheu resíduos da pele de Santos. Foi feito exame toxicológico, para verificar a ingestão de álcool e drogas.

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