São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 1997
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Filha de Prestes aponta erros em filme

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

"O Velho - A História de Luiz Carlos Prestes", filme do cineasta Toni Venturi que estréia dia 1º de maio em circuito comercial no Rio e em São Paulo, mostra uma visão ideologicamente deturpada da vida do líder comunista, além de apresentar incorreções históricas.
A opinião é da historiadora Anita Leocádia Prestes, 60, filha do ex-secretário geral do PCB e de Olga Benário, que, em entrevista à Folha, listou o que considerou incorreções do filme de Venturi.
"O filme é claramente anticomunista, anti-Prestes e anti-Olga. Mostra a visão sempre repetida pela direita no Brasil de que os comunistas, e Prestes em particular, não passam de meros agentes de Moscou", disse a historiadora.
Ao lado de sua tia Lygia, 83, irmã de Prestes, Anita criticou também o que considerou erros históricos do filme.
"Ele começa o filme mostrando uma foto de minha tia Clotilde Prestes, falecida, como sendo de minha avó, Leocádia Prestes. Um erro grosseiro, já que elas não eram nem parecidas, mas bastante diferentes", disse.
Anita e Lygia contam que, há cerca de dois anos, foram procuradas por Toni Venturi, que lhes pediu sugestões sobre o roteiro escrito em parceria com Di Moretti.
"Pelo roteiro ficava evidente que o resultado do trabalho não ia levar a uma visão realista, verdadeira, da vida do meu pai, porque ele dava palavra a pessoas que ou não o conheceram ou foram inimigas dele", disse Anita.
Depois de uma conversa, Anita e Lygia apresentaram a Venturi uma lista de reparos ao roteiro.
"Conversamos com ele, procurando mostrar que daquele jeito nos recusávamos a colaborar com o filme. Ele agradeceu, pegou a lista, foi embora e nunca mais apareceu. Agora, com o filme pronto, tivemos a surpresa de descobrir que ainda é bem pior do que estava no roteiro. Nada da lista que fizemos foi levado em consideração", afirmou Anita.
Espiã
Um dos aspectos de "O Velho" que mais desagradou a historiadora foi o fato de Venturi ter afirmado que Olga Benário era uma espiã soviética. "Não podemos aceitar isso de maneira nenhuma porque não corresponde à verdade. Minha mãe não veio ao Brasil para realizar uma tarefa de espionagem, muito menos para espionar meu pai. Isso é uma calúnia revoltante."
"Causa espécie que Toni Venturi, que se diz admirador de Prestes e da minha mãe, concorde em fazer um filme desse tipo", disse.
Preocupante também, para Anita Leocádia, é a sucessão de erros históricos existentes em "O Velho - A História de Luiz Carlos Prestes". Além do erro na identificação de sua avó Leocádia, a historiadora cita o fato de o general Miguel Costa ser citado como o chefe da revolução de 1930 em São Paulo.
"Miguel Costa teve participação importante, mas o chefe era o general Isidoro Dias Lopes."
Miguel Costa é ainda citado como presidente da Aliança Nacional Libertadora, quando na verdade o presidente da entidade era o tenente Hercolino Cascardo.
Outro erro citado por Anita Leocádia: o manifesto de maio de 1930, em que Prestes rompe com o tenentismo, é apresentando como um manifesto no qual o líder rompe com Getúlio Vargas.
"Além disso, transferiram o manifesto de maio para julho", completa Lygia Prestes.
Apesar de discordarem de vários aspectos do filme, Anita Leocádia e Lygia Prestes não pretendem tomar nenhuma medida judicial contra o filme.
"Não adiantaria nada e não temos dinheiro para uma batalha jurídica. O que nos deixa triste é que fica parecendo que meu pai era um homem teimoso, empedernido, fechado, que não gostava de conversar com ninguém. Pouco se fala também de seu rompimento com o PC e de sua luta pela anistia. Fica parecendo que, no final, ele teve uma vida vazia", disse Anita.

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