São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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Ex-donos da Trol são denunciados por fraude

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dilson Suplicy Funaro e Jorge Eduardo Suplicy Funaro, filhos do ex-ministro da Fazenda Dilson Funaro, morto em 1989, foram denunciados pelo Ministério Público do Estado de São Paulo no inquérito que apura supostos atos fraudulentos na falência da Trol.
Eles são acusados de emissão de duplicatas "frias", apropriação indébita, emprego de meios ruinosos para obter recursos e retardar a declaração de falência, simulação de dívidas e desvios de bens.
A promotora de Justiça de Falências Maria Cristina Moreira Viegas denunciou os ex-dirigentes da Trol como incursos nos artigos 172 e 168 do Código Penal e nos artigos 186, 187 e 188 da Lei de Falências.
Se a denúncia for aceita pelo juiz, os acusados estarão sujeitos a penas de um a quatro anos de prisão.
Dilson Suplicy é diretor administrativo-financeiro do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Jorge Eduardo é chefe de gabinete do secretário Emerson Kapaz, da Ciência e Tecnologia (a quem está subordinado o IPT).
Crédito fictício
A Trol e a Politrol pediram concordata em 1990 em jurisdições distintas. Em 1993, a concordata foi transformada em falência, englobando as empresas do grupo. O processo foi marcado por episódios controvertidos, como desaparecimento de livros e de volumes dos autos, incêndios e saques, depois de lacrada a indústria.
Segundo os autos, os denunciados emitiram títulos que não correspondiam a venda ou prestação de serviços. Esses títulos eram descontados junto à rede bancária.
Eles são acusados de deixar de recolher ao INSS R$ 451,7 mil, relativos a contribuições descontadas dos empregados, e de se apropriarem indevidamente de ICMS no valor de R$ 4,3 milhões. O valor se refere ao imposto pago pelos consumidores finais e que os denunciados teriam deixado de repassar ao governo.
Perícia judicial aponta negociação ruinosa de dívida com o Banespa (que, no período de quatro meses, aumentou de US$ 1,2 milhão para US$ 1,712 milhão).
Troca de chumbo
"Os denunciados, visando assegurar injusta vantagem em detrimento dos credores, impetraram concordatas preventivas que, sabiam, não poderiam ser cumpridas", afirma a denúncia.
A perícia revelou transferência de dívidas entre empresas do grupo -uma empresa em moratória assumia a posição de cessionária e dispensava a coligada de efetuar qualquer pagamento.
O objetivo, diz a denúncia, seria preservar a Trol, com prejuízo aos credores das empresas onde os passivos eram "descarregados".
A denúncia aponta balanços inchados artificialmente, supressão de livros contábeis e oferecimento de garantias inexistentes.
"Os bens que compunham o parque industrial e dados em alienação fiduciária ao BNDES desapareceram", afirma a denúncia. Também desapareceram mercadorias, máquinas e equipamentos.
A promotora também denunciou Alcino Fernando Augusto e Ernesto Nagata por desvio de bens.

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