São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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RUSSOS E CHINESES

A declaração conjunta anunciada por Rússia e China contra os Estados Unidos, que estariam em "busca da hegemonia e monopólio no cenário internacional", é a mais forte manifestação de divergência política global desde o final da Guerra Fria.
Aliás, não se trata de uma estratégia de contraponto aos EUA urdida apenas entre a Rússia e a China, pois outra importante potência emergente, a Índia, integra essa nova frente de aproximação geopolítica.
A iniciativa coincide também com a resistência russa à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar liderada por Washington que o presidente Clinton prometeu estender a países que no pós-guerra estiveram sob o domínio soviético, como a Polônia.
A China não fica atrás e tem seus próprios motivos de atrito político com os EUA, onde nos últimos meses ganharam intensidade as críticas às violações de direitos humanos pelo governo chinês.
A lista de disputas comerciais entre China e Estados Unidos também aumentou no período recente, incluindo questões de propriedade intelectual e conflitos em setores importantes para a economia norte-americana, como a aviação civil.
Mas, se a Rússia vê no espectro da Otan uma ameaça, as relações no campo da segurança entre EUA e China também têm provocado preocupações. Há pelo menos um ano as autoridades norte-americanas acusam o governo chinês de desviar importações de máquinas e equipamentos civis para utilização militar.
A declaração conjunta entre China e Rússia não é uma ameaça direta, e os líderes fizeram questão de salientar que não se trata de construir uma "aliança" contra os EUA.
Mas o número, a variedade e a intensidade dos conflitos, presentes e passados, entre esses três gigantes sugerem que a iniciativa sino-russa pode vir a ser o marco de um novo cenário na política internacional.

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