São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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Edificante

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Ficamos assim: o presidente do Congresso não passa de um nostálgico da ditadura, segundo seu companheiro de chefia de poder, o presidente do Supremo Tribunal Federal.
Este, por sua vez, não vai além de um garoto que não conseguiu superar os ímpetos do tempo de presidente da UNE.
O Congresso Nacional adota comportamento "vergonhoso", na opinião do chefe do Executivo. Ou na versão mais branda, é "ranheta", uma expressão que não ouvia faz mais ou menos meio século e que minha avó gostava de utilizar, no seu português italianado, para designar os outros netos, menos eu, claro, que sempre fui muito bonzinho.
O chefe do Poder Legislativo responde desafiando o chefe do Poder Executivo a dizer de perto o que diz de longe, mais ou menos o que a garotada fazia no tempo em que minha avó chamava os netos de "ranhetas".
De quebra, o presidente ataca a CNBB com uma frase lapidar: os bispos não deveriam opinar sobre um determinado assunto (no caso, a privatização da Vale) sem ter informação.
Perfeito. Ninguém, aliás, deveria opinar sobre coisa alguma sem ter um mínimo (de preferência, um máximo) de informações. Mas o presidente seria mais sincero se dissesse que os bispos não deveriam opinar sobre assuntos que não tenham a ver com a salvação das almas, embora, em tempos não tão remotos, FHC assinasse em baixo tudo o que a CNBB dizia sobre a salvação dos corpos.
Tudo somado, estamos diante de um desses momentos edificantes. Grandes teses estão sendo lançadas pelos pais da pátria e todos parecem ter razão, o que, de resto, não chega a ser um elogio para cada um deles.
No fundo, no fundo, talvez o caminho seja esse mesmo. Começa com bate-boca, aí um ou outro vai acabar usando um palavrão, ouvirá outro em resposta, e tudo terminará no braço.
Não resolve nada, mas é bem Brasil.

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