São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997
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Quem ganha é a democracia

LUIZ CARLOS SANTOS

Manifestações populares significam, antes e acima de tudo, que a democracia no Brasil está sendo exercida em sua plenitude, ao contrário do que chegaram a apregoar alguns setores sobre a possível existência de um despotismo esclarecido.
Poderíamos lembrar também que nem todas as críticas ou atos, entre os verificados mais recentemente, são "contra o governo".
A marcha dos sem-terra, por exemplo, foi a favor da reforma agrária, tema para o qual o presidente Fernando Henrique Cardoso tem dedicado amplo esforço, não apenas ao incrementar os assentamentos (mais de 100 mil famílias em dois anos), mas também no campo legislativo, com a aprovação de profundas alterações na legislação agrária (entre elas, a elevação do ITR sobre propriedades improdutivas, o rito sumário para desapropriação e a lei que considera crime, e não mais contravenção, o porte ilegal de armas).
Portanto o governo também está empenhado na reforma agrária -um problema secular e que exige tempo e recursos para sua solução definitiva.
A simpatia que a população demonstrou ao movimento dos sem-terra restringe-se às reivindicações dos trabalhadores pela reforma agrária e não a uma provável manifestação contrária ao governo Fernando Henrique, mesmo porque o presidente continua tendo amplo apoio em todas as pesquisas de opinião pública, e o Plano Real -esse, sim, sempre rejeitado pelas oposições- já está incorporado como uma conquista do povo brasileiro.
O atual governo busca uma construção política com o Congresso Nacional, na tentativa, árdua, de substituir um modelo político-econômico falido, gerador de injustiças sociais e de crises.
A ação diplomática exercida pelo presidente Fernando Henrique o habilita a ser um agente dessa transformação e o coloca entre os cinco estadistas mais respeitados do mundo. Isso gera credibilidade para o país e facilita o ingresso de investimento estrangeiro. Uma ação pragmática e justa, livre das pregações demagógicas que marcaram e distorceram a história política brasileira.
Não se pode entender como fortalecimento oposicionista eventuais liminares concedidas pelo Poder Judiciário, em matérias fundamentais para a vida do país. Decisões da Justiça devem e serão respeitadas e cumpridas. E nunca é demais lembrar que elas não são (e não foram) tomadas para agradar a este ou aquele setor da sociedade, mas visando sobretudo o interesse público, a preservação das leis e da ordem.
A oposição, que sistematicamente vota contra tudo -até mesmo a criação de um fundo para investimentos em educação-, não pode sair fortalecida dessa opção que a sociedade brasileira faz pela modernidade.
Certamente há no meio desse caminho muito mais do que uma pedra, como diria o poeta; existe mesmo é uma imensa rocha de dificuldades. Mas o povo brasileiro saberá superar todos os obstáculos com firmeza. É só uma questão de tempo.

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