São Paulo, domingo, 4 de maio de 1997
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Projeto prevê concentração populacional

DA REPORTAGEM LOCAL

Arquitetos consultados pela Folha dizem que, em vez de apresentar soluções para os muitos conflitos da cidade, o Plano Diretor de Pitta traz uma política de adensamento populacional (mais pessoas em uma mesma área) que apenas vai intensificar os problemas.
O plano foi elaborado a partir do seguinte raciocínio: o crescimento horizontal da cidade (para os lados) custa caro para o município.
Representa a ocupação de áreas cada vez mais distantes do centro, onde é preciso investir para urbanizar: abrir ruas, colocar linhas de ônibus, construir escolas etc.
Por outro lado, segundo a prefeitura, muitos bairros de São Paulo têm infra-estrutura ociosa. Isto é, têm capacidade para atender mais pessoas do que acolhem hoje.
Nessa situação estariam bairros como Liberdade e Santa Cecília, no centro, Vila Mariana e Jabaquara, na zona sul, Mooca e Tatuapé, na zona leste, Perdizes e Barra Funda, na oeste, e Santana e Limão, na norte.
O Plano Diretor propõe, então, o adensamento dessas áreas. Isso ocorreria da seguinte forma: a prefeitura autorizaria a construção de imóveis maiores que o tamanho máximo estabelecido pelo zoneamento (leia texto abaixo).
Por exemplo, autorizaria a construção de edifícios em bairros onde hoje é proibida. Em troca, o interessado teria de pagar uma determinada quantia ao município. O dinheiro, a prefeitura poderia gastar em obras.
Críticas
Ex-secretário de Planejamento de São Paulo na gestão Olavo Setúbal, o urbanista Cândido Malta critica o plano.
Ele diz que o centro expandido da cidade, ao contrário do que afirma a prefeitura, não tem condições estruturais (transporte, sistema viário, rede de esgoto) para abrigar mais pessoas.
Centro expandido é o nome que se dá para a região limitada pelos rios Tietê, na zona norte, e Pinheiros, na oeste, e pelos bairros Jabaquara, na sul, e Mooca, na leste.
"Essa região tem áreas com densidade demográfica de quase 300 habitantes por hectare, que é o índice de saturação de Londres e Nova York", diz o arquiteto Flávio Villaça, outro crítico do projeto.
"Só que essas cidades têm 400 km de metrô, e São Paulo não tem 50", diz Villaça, que é professor de Planejamento Urbano da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP).
O adensamento populacional proposto pelo plano também é criticado pelo especialista em engenharia ambiental Ben Hur Batalha, consultor da OPS (Organização Pan-Americana de Saúde).
Ele diz que o fornecimento de água e o sistema de esgoto do centro deverão piorar. "A tubulação é antiga e está no limite."
Segundo Batalha, a permissão para a construção de prédios maiores provocará a diminuição da oferta de água e um "perigoso aumento do esgoto, o que tornaria o sistema sujeito a vazamentos".
Hoje, a Sabesp não consegue fornecer água para toda a população da cidade ao mesmo tempo, apesar de produzir mais do que o necessário.
O motivo principal é a perda de 22% da produção em vazamentos na rede (que em alguns locais tem mais de 50 anos). Com o aumento do consumo, é possível que a necessidade de rodízio aumente.
A Sabesp, porém, diz que não haveria problemas. Francisco Paracampos, gerente do departamento de engenharia da Sabesp (Centro), diz que a infra-estrutura atual não sofreria com o adensamento.
"Não estou me posicionando favoravelmente ao plano. Digo apenas que, nesse aspecto, não haveria problemas. Mesmo porque seria mais barato fazer obras de adequação do que levar infra-estrutura para regiões mais afastadas."

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