São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
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'Bad boy' na nuca causa repreensão

MÁRIO MAGALHÃES
DO ENVIADO A MANAUS

O atacante Sandokan, 16, chega contente ao treino dos juvenis do América, orgulhoso do desenho que fez no cabelo raspado. Na nuca, mostra agora a figura de um "bad boy", da grife que infesta o país em camisetas e adesivos.
"O que é isso, rapaz?"
"É visual, seu Amadeu", responde o adolescente.
"Visual? De onde tirou isso, garoto? Papai e mamãe já viram?"
"Ela sabe, é cabeleireira."
"Então faz o seguinte", conclui o técnico. "Na próxima vez, traz uma máquina zero que eu vou pedir para os meninos te agarrarem para raspar a cabeça. Tomara que essa moda não pegue aqui."
A cena se passou no campo careca do terreno de uma empreiteira. É lá que o América, sem qualquer espaço próprio para treinar, funciona. Há atividades das equipes de várias idades e da escolinha de futebol, a grande paixão de Teixeira. Por não cobrar mensalidade -"Seria uma deselegância"-, recebe muitas crianças pobres.
Para os melhores, que passam a integrar os times do América, Teixeira compra, com verba do seu bolso, passes para ônibus.
Mais importante, crê o treinador, é aproveitar o tempo para educar os meninos, mesmo que seja somente sobre futebol.
Os desavisados que não o conhecem e o procuram vestindo camisa de outro clube ouvem sermões.
"Nada me dói mais do que ver garotos daqui torcendo para times do sul. Para jogar no América, o único uniforme aceito é o nosso."
E a regra não deve mudar tão cedo. "Por enquanto, vou ficando. Quando houver um sucessor, terá que ser como eu: escravo do América."
(MM)

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