São Paulo, terça-feira, 6 de maio de 1997
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O COMEÇO DO TÚNEL

As medidas que restringem o crédito ao consumo, anunciadas na semana passada, tiveram até agora o dom surpreendente de ao mesmo tempo assustar e frustrar. Assustar consumidores e empresários, frustrar parte dos agentes financeiros.
Para consumidores e empresários, o mais importante é o sinal dado pelo governo. Se até algumas semanas atrás as autoridades insistiam no discurso da aterrissagem suave e espontânea, do desaquecimento natural, agora tudo mudou.
O governo começou a agir, em vez de esperar que os níveis de consumo e de atividade econômica por si mesmos encontrassem um equilíbrio.
Já para muitos observadores do sistema financeiro é forte a impressão de que os efeitos desse aumento no custo do crédito ao consumo podem não ter a força suficiente.
Isso se explica porque para consumidores interessa mais, por exemplo, o número de prestações que o custo do crédito. Como o governo não restringiu prazos, as análises no mercado financeiro sugerem que novas medidas serão necessárias.
Assustados uns, outros aguardando novos apertos, o consenso por enquanto ainda é o de que o governo não deve mudar a política cambial nos próximos meses para corrigir o desequilíbrio nas contas externas.
Desvalorizar o câmbio significaria não apenas aumentar o custo dos produtos importados ou dar espaço para correções de preços domésticos, pois haveria menos exposição à concorrência externa. Além desses efeitos inflacionários, uma desvalorização cambial maior criaria riscos de ordem financeira. Aumentou o endividamento externo e, o que é talvez mais relevante, a participação das empresas nesse endividamento cresceu mais ainda nos últimos meses. Mexer na regra cambial poderia colocar em risco empresas e bancos agora mais "dolarizados".
Corrigir o desajuste atual nas contas externas não é fácil. O percurso pelo túnel do ajuste, ainda escuro, aparentemente mal começou.

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