São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Políticos temem ingerência na política

DE BUENOS AIRES

A idéia impulsionada pelos EUA de que os militares atuem no combate ao narcotráfico faz surgir temores entre políticos e especialistas em segurança argentinos.
"Depois de tantos anos com golpes de Estado, os militares começam fazendo a segurança interna, espionagem interna e terminam fazendo espionagem política."
A frase é de Julio Cesar Aráoz, secretário de Prevenção Contra o Vício, funcionário muito próximo ao presidente Carlos Menem.
A Constituição do país só reserva aos militares a defesa externa. No Brasil, as forças devem ainda garantir a unidade do país, a democracia e o Estado de Direito.
Após a última redemocratização, a imagem dos militares argentinos saiu muito mais desgastada do que a de seus colegas brasileiros.
O desaparecimento de 30 mil opositores e o fracasso na Guerra das Malvinas foram os fatores mais importantes. Mas os militares podem estar diante de novo desgaste. Pode se repetir na Argentina o que ocorreu no México: generais destacados no combate ao tráfico que, após serem subornados, acobertam o delito. Anualmente, 240 toneladas de cocaína chegam aos EUA vindas do América do Sul, e um dos principais passos é a fronteira com o México.
O cálculo é que os narcotraficantes mexicanos ganham US$ 10 bilhões ao ano, gastando US$ 6 bilhões para subornar policiais, funcionários e, agora, militares.
Os EUA querem centralizar em seus quartéis no Panamá a luta contra o tráfico, coisa que Brasil, Argentina e Chile recusaram em 96. Mas a Argentina vem mudando de posição (por seu alinhamento com EUA) e já enviou para o Panamá dois oficiais para se adestrar para a luta ao novo inimigo.
O ministro de Defesa, Jorge Domínguez, precisa dar sinais aos EUA de apoio, mas sabe que a idéia sofre resistência interna e até impedimento constitucional.
Até agora, fala-se em uma atuação indireta dos militares. Suas funções seriam a vigilância do espaço aéreo e a serviços de inteligência externa (espionagem).
A ação direta seria exercida pelas forças de segurança: polícia, gendarmeria e prefectura. Somadas, elas têm três vezes mais homens do que o Exército, Marinha e Aeronáutica da Argentina juntos.

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