São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Governo reduz gastos militares

RODRIGO BERTOLOTTO

em Buenos Aires
O governo argentino chama o processo de "maximização" dos gastos, mas, para as Forças Armadas, significa o desmantelamento de sua antiga estrutura.
Desde 1983, ano em que os civis retornaram ao poder, o salário dos oficiais caiu pela metade, o sistema de aposentaria foi cortado em 25%, os 70 cargos de generais caíram para 37 e muita coisa foi privatizada.
Um exemplo: mais de 20 mil hectares de terra pertencentes ao Exército passaram a particulares.
As indústrias militares foram vendidas, como a fábrica de aviões de Córdoba, comprada pela norte-americana Lockheed.
E nas bases, portos e quartéis há muita insatisfação. "Meus soldados sobrevivem comendo só salsichas", afirmou o general Julio César Veronelli, comandante do 2º Corpo do Exército.
A reclamação de Veronelli, classificada como forte pela cúpula do Exército, não está longe do que pensa a maioria dos militares.
A próxima medida para enxugar os gastos militares será a construção do "Pentágono argentino", edifício no subúrbio de Buenos Aires que abrigará o Ministério de Defesa, as três forças e o Estado Maior Conjunto.
A obra, de 100 mil metros quadrados, custaria US$ 100 milhões, mas a venda dos atuais edifícios das forças, situados em áreas nobres, arrecadaria US$ 400 milhões.
Porém, esse lucro de US$ 300 milhões ficaria com o Ministério da Economia, setor responsável pelas privatizações -o que irrita ainda mais os militares.
O governo também anunciou que vários hospitais, escolas e regimentos serão desativados ou sofrerão uma fusão.
As medidas desgastaram os chefes militares, que foram quase todos trocados na virada do ano.
Na Marinha, estão encostados o porta-aviões 25 de Mayo (similar ao brasileiro Minas Gerais) e o submarino San Luis.
Os únicos aparelhos novos são os nove aviões que a Secretaria de Pesca comprou para que a Marinha impeça barcos espanhóis, coreanos e japoneses de trabalharem em mar argentino.
Em 1995, o país se surpreendeu com os 180 pilotos militares que passaram para a aviação civil, buscando triplicar seus ordenados.
Hoje, a Argentina possui só 300 aviadores de combate -o Chile tem 790 e o Brasil, 1.250. Em 82, ano do conflito com a Grã-Bretanha, havia 800.
(RB)

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