São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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'O Que É Isso?' traz de volta debate sobre luta armada

DA REDAÇÃO

A exibição do filme "O Que é Isso, Companheiro", de Bruno Barreto, trouxe à tona um tema pouco conhecido das novas gerações: o enfrentamento armado entre militantes de esquerda e o regime militar (1964-1985).
Para entender o que se convencionou chamar de luta armada é preciso recuar à queda do presidente João Goulart (PTB) em 1964 -talvez a maior derrota da esquerda brasileira. Os militares tomaram o poder praticamente sem luta. Desarticulados, os comunistas iniciaram uma reação armada em 67, que durou até 74.
A pricnipal organização de esquerda, o PCB, porém, rejeitava qualquer forma de violência no combate ao regime, pregando a resistência por meio dos mecanismos institucionais.
Grande parte das bases do PCB, porém, culpava a direção pela derrota de 64. A avaliação majoritária era de que o partido tinha adotado uma política conciliatória, colocando-se a reboque de Jango e da burguesia nacional. Começa então a desagregação do PCB e a proliferação de grupos que pegaram em armas (veja quadro abaixo).
Estima-se que 10 mil militantes do PCB acompanharam Carlos Marighella na criação da ALN. Outros 5.000 seguiram Jacob Gorender e Mário Alves na organização do PCBR, e 5.000 se dispersaram em diversas dissidências, que deram origem a outras organizações (MR-8, Corrente etc.).
Em oposição ao PCB, todas essas organizações adotaram a estratégia da "guerra popular", que previa a organização de um "exército de libertação" nas regiões mais pobres, que aos poucos controlaria áreas cada vez mais extensas.
Na teoria, esses grupos, inspirados nas revoluções chinesa e cubana, pregavam a guerrilha rural, mas na prática acabaram limitando sua atuação aos grandes centros urbanos, onde se concentravam seus militantes -estudantes e sindicalistas, em sua maior parte.
A grande exceção foi o PC do B, dissidência do PCB surgida em 1962. Alinhado desde o início ao Partido Comunista Chinês, o partido começou a implantar um núcleo guerrilheiro na região do Araguaia ainda em 1966. O foco só seria descoberto em 1972.
A guerrilha viveu dois momentos. No início, pegou o governo militar de surpresa, completamente despreparado para a onda de atentados e assaltos a banco. O regime enfrentava uma recessão econômica e desgaste político. Os protestos de rua de 1968 pareciam confirmar a estratégia de abrir um ataque frontal contra o governo.
Mas isso durou pouco. A retomada do crescimento econômico distanciou a classe média da esquerda. Ao mesmo tempo, o Estado estruturou uma organização repressiva. Os grupos, fragmentados e sem apoio na sociedade civil, foram sendo eliminados um a um. O foco do Araguaia foi liquidado em 1974. A guerrilha urbana já tinha desaparecido em 1972.

LEIA MAIS sobre militância estudantil às págs. 3-8 e 3-9

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