São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sentindo a 'forca', empresariado faz aliança

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Samuel Johnson, escritor britânico do século 18, tem uma frase que é resgatada pelo economista e empresário Cláudio Frischtak para descrever a mobilização do empresariado brasileiro em torno da Alca:
"A visão da forca concentra a mente das pessoas."
A "forca" no caso seria a obrigatoriedade de competir com a portentosa economia norte-americana no próprio território brasileiro.
Que a competição é inevitável, nenhuma das pessoas ouvidas pela Folha (empresários, acadêmicos ou funcionários do governo) discorda.
"A Alca é inevitável", chega a decretar Frischtak, vice-presidente da firma Worldinvest.
Concorda o chanceler Lampreia: "Não há mais lugar no Brasil para o protecionismo comercial nem para a autarquia (auto-suficiência) econômica".
O problema é, portanto, quanto tempo a economia brasileira precisa para se preparar para a "forca".
A simples visão dela já produziu um bloco inédito, em questões de comércio internacional, chamado "Coalizão Empresarial Brasileira".
Por iniciativa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), todos os segmentos produtivos foram consultados para "um exercício de preparação não só para a Alca, mas também para depois da Alca, ou seja, para quaisquer outras rodadas de negociações comerciais", diz José Augusto Coelho Fernandes, diretor-executivo da CNI.
Essa coalizão vai da indústria aos transportes, do comércio ao setor automotivo, da agricultura aos exportadores de suco de laranja. E chega ao encontro de BH unida em torno da estratégia negociadora do governo brasileiro.
"É uma experiência sem precedentes de coordenação, tanto intra-empresarial como com o governo, em matéria de relações internacionais", acha José Augusto.
Reforça a Abifina (Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas especialidades): "Pela primeira vez, o setor privado nacional apresenta uma proposta concreta, construída pela negociação, e o governo federal considera o setor privado seu parceiro nessas negociações".
Consequência, pelo menos na expectativa da Abifina: "Acreditamos que a Alca possa ser realinhada, a partir de Belo Horizonte, em bases menos truculentas e desastrosas".
As bases "menos truculentas e desastrosas" seriam basicamente duas, tanto na visão do empresariado como do governo:
1 - Gradualismo, ou seja, deixar para 2005 o início do processo de redução das barreiras tarifárias.
2 - Reciprocidade, ou seja, exigir que os EUA eliminem ou no mínimo reduzam os obstáculos que impõem à entrada de produtos brasileiros, tanto manufaturados como agrícolas.
Só assim, a visão da "forca", tão próxima, deixará de aterrorizar o empresariado brasileiro.

Texto Anterior: O desafio da Alca
Próximo Texto: Cláusula social é fantasma sobre a negociação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.