São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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O desafio da Alca

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

Ocorre essa semana, em Belo Horizonte, a reunião ministerial de negociação sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Paralelamente, haverá o fórum empresarial sobre a Alca, sendo que, desta vez, o setor privado brasileiro preparou-se bem para o encontro, liderado pelas entidades de classe como a CNI.
A posição oficial brasileira é defensiva; deseja discutir temas regulatórios por enquanto e deixar a questão mais controvertida, o acesso a mercados, para depois. A razão de ser desta postura é o medo de que uma maior abertura possa aumentar o déficit da balança comercial.
É importante registrar esse dado central pois, em vez de a discussão estar sendo pautada por considerações sobre qual o papel do comércio exterior no desenvolvimento nas condições atuais, criou-se um contencioso diplomático tão mais forte quanto maior for o impacto potencial de uma concessão sobre o déficit comercial.
Nessa contenda, os manufaturados brasileiros são acusados de não serem competitivos sem que a maioria dos locutores demonstre saber o que é competitividade em economia. O despautério verbal de representantes comerciais ajuda a cristalizar posições mesquinhas.
A competitividade geral de uma economia industrializada equivale a se ela é capaz de vender uma certa gama de produtos aos preços internacionais e manter essas vendas em condições de comércio internacional crescente.
Duas ordens de fatores definem essa competitividade. Uma, microeconômica, abrange elementos como a tecnologia, organização das firmas, qualificação da mão-de-obra, modernidade e adequação do produto e outros aspectos de mercado.
A segunda, mais geral, inclui as condições sistêmicas da economia, a adequação de sua infra-estrutura, a estabilidade macroeconômica que permita algum planejamento, a existência de um aparato educacional e de pesquisa tecnológica que leve à criação de novos produtos e a novas capacitações.
No final, para saber se um produto manufaturado é competitivo com produtos de qualidade equivalente no mercado internacional, é preciso traduzir seu preço em dólar. Esta conversão depende da taxa de câmbio. Mas a taxa de câmbio pertence a campo de decisão das autoridades monetárias e não da diplomacia...
O fato é que, quando a taxa de câmbio está desalinhada com a competitividade da economia, ocorrem grandes déficits ou superávits externos que, cedo ou tarde, terminam sendo corrigidos por mudança no câmbio. Quando a taxa de câmbio está alinhada à competitividade, o saldo nas contas externas é sustentável com o crescimento do PIB.
Concluindo, a negociação da Alca está hoje enuviada pelo fato de que tanto o Brasil quanto a Argentina estão com suas moedas apreciadas e temem o crescimento das importações. Mas as questões mais relevantes sobre como o comércio externo pode contribuir para as metas de desenvolvimento, ou que tipo de perfil industrial se deseja para daqui a 10 ou 20 anos, tudo isso está sem discutir.

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