São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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"Latinos serão filão para EUA em 2010"

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Nos encontros prévios à reunião de Belo Horizonte, chegou-se a um acordo entre os 34 países da Alca (todos os das Américas, menos Cuba): o lançamento das negociações para chegar, em 2005, a uma área de livre comércio será em março de 98, em reunião de cúpula já marcada para Santiago (Chile).
Parece muito, mas é pouco. Afinal, "o recheio desse lançamento está aberto para discussão", como diz o embaixador Botafogo Gonçalves, um dos principais negociadores brasileiros.
Ou seja, decidiu-se que haverá negociação, mas não o quê, exatamente, se vai negociar.
Se o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) pudesse impor a sua própria agenda, a negociação se faria da seguinte forma:
Primeiro, os EUA concordariam em reduzir as barreiras que impõem a inúmeros produtos brasileiros, para depois o Brasil considerar a hipótese de abrir mais a sua própria economia.
Ou, como diz o chanceler Luiz Felipe Lampreia, "a indústria brasileira foi submetida a um intenso choque de competitividade, sem que a essa abertura correspondesse maior acesso brasileiro a mercados onde nossos produtos são competitivos, mas são impedidos de ingressar".
Os números parecem dar razão a Lampreia. Do lado brasileiro, as tarifas médias de importação caíram de 32,2%, em 1990, para 12,6%, a partir de 1995.
A atração latina
Em grande parte por esses fatos, o Brasil hoje importa mais do que exporta para os EUA. O déficit acumulado em 95 e 96 foi de US$ 4,2 bilhões, quando, nos três anos anteriores, havia saldo.
Aliás, não só o Brasil, mas toda a América Latina, é hoje uma das poucas áreas do mundo com a qual os EUA conseguem manter saldos comerciais (exportam mais do que importam).
"As exportações dos EUA para a América Latina se aproximam das exportações para a União Européia. Estimamos que, pelo ano 2010, nossas exportações para a América Latina alcançarão US$ 232 bilhões, mais do que as exportações combinadas para a União Européia e o Japão", diz Mickey Kantor, secretário norte-americano do Comércio.
Se se lembrar que a UE e o Japão são as duas maiores potências mundiais, após os próprios EUA, fica fácil entender a importância da aposta americana na Alca e o apetite com que se lançam à maior abertura dos mercados latinos.
Mas exportar bens não esgota o fascínio da Alca para os EUA. Os cálculos dos especialistas internacionais dizem que, nos próximos 15 anos, serão necessários US$ 150 bilhões em investimentos na melhoria da infraestrutura regional (energia e telecomunicações).
Os Estados Unidos, extremamente competitivos nessa área, ganhariam, portanto, um mercado suculento se fossem derrubadas as barreiras.
E o governo ganharia votos, pois cada US$ 1 bilhão adicional de exportações garante entre 15 mil e 20 mil novos empregos, calcula Stuart Eizenstat, subsecretário de economia do Departamento de Estado.

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