São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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'Clubes do bolinha' são divãs masculinos

CLAUDIA GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

As reuniões exclusivamente masculinas, tradicionais nos clubes fechados ingleses, têm funcionado cada vez mais como substitutas do divã para muitos profissionais paulistanos.
Além de expor seus problemas -íntimos ou não- entre amigos, os membros desses "clubes do bolinha" progressistas querem mais é relaxar e se livrar do estresse.
E, para isso, nada melhor do que um bate-papo aberto -semanal ou diário, dependendo do caso e da necessidade de desabafar.
Engana-se quem pensa que os assuntos principais giram em torno da corriqueira trinca futebol-mulher-política.
"Aliás, tem muito pouco de política e futebol. A gente fala de problemas pessoais, conta muita piada e desova a tensão", diz Eduardo Costa, 28, gerente corporate do banco Crefisul e frequentador da Casa del Habano, local para a degustação de charutos nos Jardins (zona sul de São Paulo).
Todos os dias, de segunda a sexta-feira, um grupo de aproximadamente 15 homens se reúne na charutaria para fumar e, acima de tudo, descontrair.
"Para mim, as nossas reuniões são concorrentes do analista. Venho aqui diariamente para desopilar o fígado", conta, entre uma baforada e outra, o publicitário Júlio Cesar Ferreira, 44.
Ferreira diz que um dos motivos que o levaram a deixar a análise de lado foi a fidelidade aos encontros enfumaçados do happy-hour.
O publicitário gosta tanto desses bate-papos masculinos que, há 17 anos, também faz parte de outra confraria: a de 20 homens de Guaxupé (sua terra natal, em Minas Gerais) que moram em São Paulo.
O "Clube do Boccia", outra panelinha só para meninos, bate ponto toda quinta-feira no bar Quitandinha, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo).
O analista de sistemas Wlamir Welington Ferro, 31, um dos 7 membros do grupo, diz que a idéia das reuniões semanais surgiu há dois Carnavais.
"Quase todos do grupo fizeram faculdade em São Carlos (há 244 km de São Paulo). Decidimos, então, manter aquela proximidade do interior. As nossas reuniões são uma terapia. Elas servem como uma válvula de escape."
Só mesmo certas ocasiões especiais fazem os "clubes do bolinha" abandonar a ortodoxia e abrir exceção para a presença feminina.
"Em aniversários ou feriados a gente organiza o 'open boccia', aberto ao público. É melhor assim, pois, sem as mulheres por perto, a gente tem mais liberdade para falar sobre tudo", conta o engenheiro Victor Martinez. "Há menos intrigas entre os homens."

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