São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Mercados agora apostam contra o dólar

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Na última sexta-feira a Bolsa de Nova York voltou a ser comparada a uma montanha russa e o dólar, que vinha num processo de alta ininterrupta, desabou. Para muitos analistas, acabou a onda de valorização do dólar, principalmente com relação ao iene (a cotação chegou a encostar nos 127 ienes). Resta agora saber se há um piso para a queda. O dólar desvalorizou-se ao longo de toda a semana passada, mas a confusão reinou mesmo depois de novas declarações enigmáticas do presidente da Reserva Federal (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Alan Greenspan, na sexta-feira.
O dólar entrou em processo de queda livre, chegando a níveis inferiores a 120 ienes em alguns mercados. As declarações de Greenspan inicialmente derrubaram as Bolsas, que depois se recuperaram. Mas o dólar terminou a se mana fraco.
A montanha russa em Wall Street começou com a impressão bastante generalizada entre os operadores de que os juros norte-americanos devem continuar subindo. O Fed reúne-se no próximo dia 20 de maio. Depois, passou a ganhar força a expectativa de que os juros continuarão estáveis.
Greenspan disse que "seguramente 1997 não é 1994, quando o Fed teve de ajustar as condições monetárias de modo muito substancial para evitar um aumento da inflação". Era parte de um discurso na Stern School of Business. "Se a desaceleração esperada no crescimento da demanda não ocorrer, então sim deveremos responder a qualquer tensão, tanto nos mercados de crédito como nos de consumo", continuou. "Devemos estar vigilantes", sentenciou.
Como sempre, as declarações do presidente do mais importante banco central do mundo podem ser interpretadas das mais variadas formas. Mas ele disse que, no momento, não via maiores pressões inflacionárias. Tudo portanto deve continuar como está, a começar pelos juros, o que é ótimo para as Bolsas e ruim para o dólar.
Como os brasileiros sabem muito bem, quando sobem os juros, aumenta a atração por capitais externos, que passam a buscar aplicações financeiras em reais. A demanda por reais valoriza a moeda com relação ao dólar.
O mesmo fenômeno acontece onde quer que o governo tenha alguma credibilidade para atrair capitais elevando as taxas de juros. Nos EUA, é praticamente automático: se as expectativas são de juros estáveis ou declinantes, os operadores vendem dólares e procuram aplicações financeiras em ienes e marcos.
Esse movimento fica ainda mais forte quando as autoridades do Japão e da Alemanha fazem o movimento oposto ao de Greenspan e anunciam seja um aumento de juros, seja uma ação coordenada para barrar a valorização do dólar.
Foi exatamente o que aconteceu na semana passada. Medidas da Alemanha e do Japão, sancionadas por autoridades monetárias do G-7 (grupo dos sete países mais industrializados), sobre intervenções conjuntas nos mercados cambiais para deter a alta do dólar foram decisivas para desatar a queda livre da moeda norte-americana.
Pesaram também as declarações do ministro das Finanças do Japão, Hiroshi Mitsuzuka, para quem "a estabilização do iene frente ao dólar através de uma intervenção coordenada é muito importante de um ponto de vista macroeconômico".
Em Nova York, Jonh Rothfield, economista do NationsBank, instituição que participou do leilão da Vale do Rio Doce (e ganhou) afirmou que o dólar está sendo vítima de um "sentimento negativo temporário" e que ainda é cedo para dizer que a alta do dólar chegou ao fim.
Essa foi, entretanto, a maior queda em relação ao iene dos últimos 18 meses e os mercados chegaram perto de um pânico. Há expectativas de alta dos juros no Japão. Em setembro de 1995 o dólar chegou a 97 ienes. Os mercados agora perguntam se o fim da alta dará início a uma queda igualmente prolongada. A pergunta agora é "até onde" e não "para onde" o dólar vai.

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