São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997 |
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Limpar o futebol
LUÍS NASSIF Não dá para adiar mais uma intervenção firme no futebol brasileiro, nem da parte do Executivo nem dos demais poderes constituídos.O país está em processo penoso de reconstrução nacional. Nos anos 80, o modelo autoritário entrou em crise. Seguiu-se fase doída de extrapolações, exageros, corrupção desenfreada. Depois, o início do acerto de contas com o passado, que levou até à cassação de um presidente da República. Agora, iniciou-se a reconstrução. Há um longo caminho a percorrer em muitas frentes, mas poucas com a dimensão econômica e política do futebol. Na grande batalha da globalização, o futebol é um dos poucos produtos nacionais de exportação. Não há produto com mercado interno mais favorável. É a maior paixão nacional, o produto mais disputado pelas redes de televisão, o esporte que dispõe da mais ampla cobertura da imprensa, o tema predileto das campanhas publicitárias. Um campeonato nacional bem explorado seria vendido para as televisões do mundo inteiro, em condições de competir com a NBA -a liga de basquete americana. Exportação gravosa No entanto, o que se vê é uma estrutura arcaica, corrupta -conforme se observou no escândalo das arbitragens, dentro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)- incapaz de conferir um significado minimamente eficiente à indústria do futebol. Ano após ano, gerações de jogadores de nível internacional são exportados, pela incapacidade financeira dos clubes nacionais de preservá-los. Depois de exportados, viram segundos valiosos de televisão e passam a ser consumidos no Brasil, mediante o pagamento de royalties pelo direito de imagem dos jogos de seus novos clubes. O tema é importante demais para ficar subordinado à estrutura de federações esportivas anacrônicas. E tem significado amplo demais para não merecer a atenção do Executivo. Só se consegue desmontar estruturas anacrônicas como esta, em momentos de comoção, provocados por episódios do tipo do escândalo das arbitragens. Se não se aproveitar o momento para se proceder a uma ampla mudança no futebol, permitindo seu ingresso no fórum das atividades organizadas e legais, vai levar muito tempo até se conseguir outra oportunidade. Data venia Vamos combinar o seguinte: o governo deixa de repetir que toda crítica é desestabilizadora e os bacharéis da oposição param com essa tolice de considerar toda crítica às suas posições como esbirros da ditadura. Não tem cabimento. Já é ridícula a posição dos que pretendem a sacralização de presidentes da República e a desqualificação de toda crítica como "neoboba". Pretender, agora, sacralizar representantes da oposição, é demais. Sinal de ditadura é mandar prender o crítico. Polemizar com ele é o sinal mais maduro de democracia. E se a polêmica, de lado a lado, deixar de ser desqualificadora, além de democracia, será sinal de evolução. O que se quer? Que pessoas assumam atitudes públicas polêmicas e se mantenham acima do bem e do mal? Sugiro que se tranquem as duas partes em um salão de chá e se embalem suas polêmicas ao som de minuetos para não ferir suas suscetibilidades. Email: lnassifol.com.br Texto Anterior: Mercados agora apostam contra o dólar Próximo Texto: Classe média pagará mais ao INSS a partir de junho Índice |
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