São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Franca destoa do país e fica no garrafão

RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A FRANCA (SP)

A típica cidade do interior paulista tem uma praça central cercada por uma igreja e agências bancárias. Franca é assim.
A diferença é que por lá há quem planeje montar uma quadra de basquete bem no meio da praça.
"Faríamos um treino semanal com a equipe campeã brasileira. Depois a quadra seria ocupada pelos meninos de rua", diz José Carlos Ramos, empresário e ex-dirigente do basquete local.
Ainda sob o efeito do título ganho há uma semana, Franca, auto-intitulada a "capital do basquete brasileiro", convive com idéias mirabolantes e outras factíveis para lucrar mais com a modalidade.
A primeira e a mais próxima de se realizar é a criação de um Memorial do Basquete, uma espécie de "Hall da Fama" francano.
Outra é a criação de uma Universidade do Basquete, centralizando o aperfeiçoamento de atletas.
Defendida pelo técnico do Franca, Hélio Rubens, a proposta já foi levada ao ministro dos Esportes, Edson Arantes do Nascimento.
Uma outra é a criação de uma Festa do Basquete -ao estilo da Festa do Peão de Barretos.
A cidade quer ainda explorar o basquete turisticamente, trazendo acampamentos de esportistas para aprimorar sua técnica ali.
Infra-estrutura
Franca possui mais de 200 tabelas nas ruas, 20 quadras da prefeitura onde é ensinado o basquete, uma clínica da modalidade e até o shopping center local tem uma quadra em seu estacionamento.
"Perdemos 40 vagas para carros com a quadra, mas ganhamos a simpatia do público", afirma o gerente de marketing do Franca Shopping, Daniel Ranhel Ribeiro.
O basquete já virou uma indústria na cidade, empregando mais de 500 pessoas entre esportistas, empresários e trabalhadores das fábricas de tabelas e roupas.
"É muito difícil fazer os garotos jogarem vôlei ou futebol", diz a secretária de Esporte, Júlia Ribeiro.
Nos bairros mais pobres, como o Jardim Vicente Leporace, os rachas de basquete povoam as ruas todas as tardes e noites.
"Aqui, nós discutimos se Shaquille O'Neal é melhor do que Oscar. Quem fala sobre futebol são as pessoas mais velhas", afirma o sapateiro Eder Júnior, 18, salário de R$ 180 e fã do ala Grant Hill (astro do Detroit Pistons) e dos rappers Filosofia e Racionais.
Já os garotos de famílias mais abastadas aprendem o esporte em clínicas e escolinhas.
"Misturamos basquete e ginástica olímpica para iniciar meninos de até quatro anos", diz Guerrinha, dono de uma clínica e astro francano prestes a se aposentar.
Guerrinha já comercializou 400 tabelas de basquete para chácaras.
Pelas ruas, os jovens adotam a moda do esporte, com bermudas largas, tênis de cano alto e camisa de times (Chicago Bulls e Cougar/Franca dividem a predileção).
História
A região de Franca foi desbravada pelos bandeirantes no início do século 18, e, em 1805, surgiu o primeiro núcleo urbano, criado por migrantes de Minas Gerais.
O basquete entra na história em 1908, com a primeira partida de bola-ao-cesto na região.
Na década de 30, começa a liga francana. Em 1957, surge o time do Clube dos Bagres, embrião da equipe, vencedora de 9 dos 12 títulos brasileiros e 12 dos 15 paulistas.
"Há um astral psíquico, uma energia na cidade", tenta explicar o técnico Hélio Rubens.

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