São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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A genética contra as pragas

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um grupo de pesquisa no Reino Unido está se esforçando para aumentar o percentual dos seres humanos nesse bolo. Eles querem driblar a natureza usando suas próprias armas -os genes, as unidades do código genético que informam todas as características dos seres vivos.
Esses pesquisadores da Universidade de Durham estão entre os pioneiros desse tipo de esforço de pesquisa -vide um artigo que publicaram sobre plantas "transgênicas" na revista "Nature" em 87.
A novidade agora, depois de dez anos de reflexão, pode ser saudada até mesmo pelos ambientalistas mais radicais, que nesse período têm se oposto dedicadamente ao plantio de vegetais "transgênicos". Em vez de enxertar genes de microorganismos nas plantas, de modo a torná-las mais resistentes aos insetos, o grupo britânico acha que o ideal é utilizar genes de outras plantas. Isto é, algum gene que possibilite a uma planta criar uma defesa eficaz contra insetos predadores pode servir a outras.
Eles acreditam que o ideal é conferir uma proteção múltipla às plantas, usando mais de um gene. Curiosamente, a estratégia lembra os coquetéis de drogas contra a Aids. A base das duas guerras -a luta contra os insetos predadores de plantas, ou contra o vírus predador de células humanas- é a seleção natural darwiniana.
Seleção natural é o processo pelo qual os organismos melhor adaptados ao seu ambiente tendem a sobreviver e a transmitir suas características genéticas. "Essa preservação de variantes favoráveis e a rejeição de variantes danosas eu chamo de seleção natural", escreveu o naturalista britânico Charles Darwin no livro inicial, e fundamental, da sua teoria, "A Origem das Espécies", de 1859.
Uma ameaça simples pode matar boa parte dos insetos (ou dos vírus, ou das bactérias etc), mas uma parte da população dessas pragas pode sobreviver, por ter uma defesa natural, escrita em seu material genético. Essa "preservação de variantes favoráveis" faz com que a espécie comece a adquirir resistência à ameaça, seja ela um inseticida, um antibiótico etc.
Uma solução "darwiniana" é tentar sobrepujar as defesas das pragas atacando em várias frentes -várias drogas antivírus, ou vários genes capazes de produzir toxinas letais aos insetos.
"A vantagem de usar genes derivados de plantas é que eles são prontamente expressos em outras plantas", diz uma das pesquisadoras do grupo britânico Angharad Gatehouse. Ela esteve na semana passada no Brasil fazendo palestras em Caxambu (MG), durante a reunião da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular.
A equipe de Gatehouse descobriu que os insetos são mais espertos do que se pensava. Eles podem rapidamente desenvolver novas enzimas (um tipo de proteínas) capazes de neutralizar os "venenos" que as plantas usam para se defender. "Eles têm uma capacidade tremenda", diz ela. Ou seja: somente saturando as defesas do inseto utilizando várias toxinas é que se pode tentar vencer a guerra.

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