São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
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Nova lei pode silenciar os 'arrependidos'

ANDREW GUMBEL
DO "'THE INDEPENDENT"

Os juízes e promotores que combatem a Máfia já não são os heróis preferidos dos italianos.
A falsa impressão que a guerra contra o crime organizado está vencida e, principalmente, uma campanha orquestrada por políticos ameaça toda a estrutura construída durante anos.
Uma parte da classe política tem interesse em desacreditar todas as provas baseadas nos depoimentos dos delinquentes, entre eles os "arrependidos", mafiosos que concordam em colaborar com a Justiça em troca de proteção.
Nos últimos 15 anos, esses depoimentos foram essenciais no combate à Máfia. Eles revelaram, entre outras coisas, as ligações do crime organizado com a política.
Um projeto de lei que está prestes a ser apresentado no Parlamento, em Roma, pretende limitar a seis meses o tempo em que os mafiosos podem fazer revelações. Só então eles saberiam se receberiam proteção do Estado e teriam de declarar que já disseram tudo o que sabiam.
Segundo o promotor de Palermo Antonio Ingroia, a maioria vai ficar de boca fechada e, se mudar de idéia depois, estará impedida de fazer novas revelações.
Seis meses é muito pouco. O primeiro mafioso a colaborar com a Justiça, Tommaso Buscetta, ainda hoje está fornecendo informações valiosas, 13 anos depois do primeiro depoimento.
A campanha para restringir o valor dos depoimentos se baseia numa compreensão errada do sistema de delação, que vem dando bons resultados.
'Arrependimento'
"Há um problema com a palavra 'arrependido', porque ela sugere uma transformação moral. Na verdade, o que fazemos é uma troca com essas pessoas, em busca de informação", diz Pier Luigi Vigna, o principal promotor anti-Máfia da Itália.
"No caso de um grupo terrorista, a prisão de cinco ou dez líderes provoca o colapso de toda a organização. Com a Máfia, é diferente", afirma Vigna. "A Máfia não é isolada do mundo. Em alguns lugares, a Máfia é o mundo." Nos últimos anos, abriu-se pela primeira vez a porta para esse mundo. Mas agora essa porta pode ser fechada novamente.
(AG)

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