São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Criancice vira doença nos EUA

The Wall Street Journal
de Nova York

DO "THE WALL STREET JOURNAL"

"Crianças sempre foram crianças, mas algumas pessoas não estariam agora vendo a infantilidade como uma doença?", pergunta o jornal.
Marty Wolt entrou na terceira série da escola elementar de Fort Myers, Flórida, transferido de Tampa, relata o jornal. Segundo o "Wall Street", Marty enchia os colegas andando atrás deles com lápis e papel e anotando tudo o que diziam. Ouviu sua professora dizer a uma outra professora que estava grávida e saiu contando para todo mundo na escola. Ele também liderou uma greve contra uma lição de matemática e pôs 25 alunos gritando: "Sem pagamento, sem trabalho".
"Carol Cebak (a professora) não achou graça. Chamou a mãe de Marty, Beth Wolt, à escola e disse que ele provavelmente tinha uma doença mental e precisaria ser medicado", diz o jornal.
"Eu sempre pensei que Marty tinha ADD (sigla inglesa para Distúrbio da Atenção Defeituosa)", disse Carol ao jornal.
A mãe de Marty não concordou. Para ela, o "mal" de Marty é que ele é um garoto. "Barulhento, esperto e um pouco entediado com a escola", disse ao jornal. "Mas não doente".
"Muitos pais, e muitos educadores, estão fazendo uma pergunta preocupante: a infância está sendo transformada em assunto para a patologia? Escolas terão se tornado tão obcecadas com ordem e com classificações que o que era considerado como traço normal da infância agora está sendo considerado desvio ou anomalia", diz o "Wall Street".
O jornal mostra números sobre crianças consideradas anormais nos EUA. Em 1995 foram 5,4 milhões, 25% a mais do que em 85.
ADD responde por 70% desses casos. Entre 80% e 90% dos diagnósticos de ADD são relativos a meninos, mostra o diário.
Marty Wolt chegou a tomar Ritalin, medicamento receitado para casos de ADD. "Eu sentia falta dele", disse Beth Wolt. "Ele não estava lá. Fazia tudo o que era para fazer. Mas a personalidade dele havia mudado", disse ao "Wall Street".
Ela parou de dar o remédio depois de um mês e não avisou a escola. Mesmo assim, no fim do ano as notas de Marty foram boas e ele recebeu elogios pela melhora.

Texto Anterior: Separatismo volta à cena no Canadá
Próximo Texto: Imagem de Mao é artigo para coleção no ocidente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.